Se arrependimento matasse...

...eu estava enterradinho e amortalhado debaixo de um monte de entulho.

Porquê? Porque à uns mesitos atrás tive uma troca de argumentos com um outro Benfiquista na caixa de comentários do blog NovoGeraçãoBenfica (a qual infelizmente não estou a ser capaz de recuperar para cumprir a promessa que fiz na altura) onde me insurgi contra as críticas duras de que Rui Vitória estava a ser alvo por parte de alguns comentadores, numa fase ainda imberbe da época.

Não é que eu seja anjinho para acreditar no Pai Natal, mas o que é facto é que na altura cegamente acreditava que Rui Vitória ainda seria capaz de demonstrar pedalada suficiente para aguentar o "peso" de ser o treinador da "estrutura".

Infelizmente o tempo veio provar que aquela pessoa com quem cruzei argumentos estava absolutamente certa.

Optei por uma questão de teimosia e de puro fundamentalismo esquecer todos os defeitos que o meu cérebro detectou no futebol do Benfica no início da época e fazer deles apenas indicações negativas pontuais derivadas quiçá da inexperiência ou de uma eventual fase de adaptação a uma realidade completamente diferente.

Deus e quem me é mais próximo sabe que eu sei bem o que custa nós pegarmos num novo projecto e torná-lo em algo de palpável, real e de futuro, portanto hesito em criticar quem se propõe a tão dura e ingrata tarefa.

Mas este Benfica desta época é uma utopia. Não estou a falar da ideia da formação. Nada disso. Estou a falar da forma como se quer concretizar um projecto que deveria ser alavancado em muito mais do que apenas o entusiasmo da juventude ou a ilusão de uma "estrutura" vencedora independentemente de quem a lidere na suas vertentes mais técnicas.

E esqueçam a questão do passivo e da situação financeira do Benfica por favor. Quem se dá ao trabalho de ler os nossos RC sabe que existe um equilíbrio hoje em dia que será difícil de destruir desde que o Benfica continue vencedor. Volto a repetir. Desde que o Benfica continue vencedor...

Escuso-me hoje de debater o que quer que seja acerca do futuro ao nível financeiro do "Universo" Benfica. Escuso-me não porque não seja capaz, mas porque é fácil fazê-lo de forma populista. Bastaria começar por lançar mão do fantasma de anteriores contratos com o Olibeiredo para questionar se os recentes acordos de longa duração firmados por esta direcção (os já divulgados e os por divulgar) serão ou não no interesse do nosso clube. Já não interessa mesmo. Uns comerão o que lhes é dado sem discutir o que quer que seja e outros apenas empurrarão o prato para o lado com repulsa como se de veneno se tratasse.

O Benfica de hoje é isto: 8 ou 80. Sem moderação, sem continuidade, sem certezas. E não estou a esquecer-me das 2 principais competições internacionais onde estamos envolvidos ao nível dos escalões de formação. Sem menosprezo de qualidade para quem quer que seja, gostava que dessem uma olhada nas classificações a nível interno e comparassem com os resultados que vamos tendo no exterior.

Tudo uma questão de mentalidade? Tudo uma questão de motivação? Tudo uma questão de fé? Muitos de nós hoje em dia dedicamos muito tempo a estas questões esotéricas sem ligar peva nenhuma à questão da competência, da reacção programada a determinado tipo de acontecimentos ou até à correcta definição das pessoas certas para o lugar certo.

Para quem não sabe eu também tive um pequeno passado como "tractor de futebol". E como era daqueles que quebravam antes de vergar tentei sempre passar essa maneira de estar no campo para todos os que comigo jogaram, treinaram ou foram treinados. Não se trata apenas de dizer ao jogador A que os jogadores da equipa adversária tem canela até ao pescoço. Trata-se sim de saber criar as condições motivacionais e físicas para que os teus possam dar aquele extrazinho que só se dá se todos acreditarmos que no fim dos 90 minutos, aconteça o que acontecer o resultado vai ser sempre nosso.

Não vejo isso, infelizmente, no Benfica hoje em dia. Vejo algumas ideias e algum trabalho que parecem querer começar a brotar para logo depois se perceber que o comandante gosta mais de "emprenhar pelos ouvidos" do que ter ideias próprias.

Não vou entrar em coisas muito concretas porque não quero destacar ninguém no meio de tão confrangedor resultado final do jogo de hoje, mas se dúvidas houvessem no início da época hoje elas para mim passaram a certezas.

O Benfica de Rui Vitória, seja com este plantel ou com um plantel feito de estrelas, não vai passar disto. Em três jogos, um é de certeza miserável como o de hoje.

E apesar de, no meu subconsciente, todas estas minhas certezas de hoje terem estado lá desde que vi o jogo que fizemos contra a Fiorentina na pré-época, o meu coração Benfiquista fez-me sempre acreditar que o 35 era possível este ano. Ainda para mais porque tínhamos algo a provar.

Pois o que é facto é que não é possível sermos campeões assim. Estamos hoje como estava o Sporting recente que tanto gostamos de usar como o exemplo acabado de "como não ser uma equipa de topo". Mas com um "pormaior" que nos diferencia quanto a mim na negativa (outros haverá que escolham ignorá-lo): nós agora já nem ao Natal chegamos!

O meu desalento é tanto que julgo mesmo que este será o meu último texto num blogue relacionado com o Benfica.

Todos sabemos que existem alturas para tudo. Já sei que muitos consideram as críticas ineficazes após um resultado negativo. Deveremos esperar pelas vitórias para criticar o que não fizemos quando não fomos vencedores. Mas quem é que lhe apetece criticar quem ganha? E quem é que é capaz de o fazer sem entrar nos habituais excessos? Ou sem entrar logo numa competição Benfiquismo? Ou sem se julgar superior aos outros quer moralmente quer em dedicação à "causa"?

Sei bem que este texto irá despertar em muitos o censor escondido que carregam dentro da alma, mas eu nunca fui muito de ficar calado enquanto os velhos do Restelo argumentam e fazem flores acerca de tudo o que é Benfica como se nós, os mais novos, tivéssemos que passar pelos níveis todos do Inferno de Dante antes de podermos ser considerados Diabos Vermelhos a sério.

Podem vir os algozes todos da estrutura para cima de mim. Que me venham beber o sangue se conseguirem. Uma coisa podem ter a certeza: É vermelho! Tinto de Benfica!

Fiquem bem amigos. Eu vou ali batalhar contra mais uns moinhos de vento e já venho.

nunomaf

PS: Ainda temos muito mais a perder esta época do que o que poderemos vir a ganhar. Ou o inverso. Mas para isso os homens tem de ser homens. E os líderes tem de liderar.