terça-feira, 2 de agosto de 2011

BENFICA:- “concorrência financeira” ou “fair play financeiro”?

O que e isso da “concorrência financeira” ou “fair play financeiro”?

Muito se tem escrito e falado a propósito desta “parangona”, quase como se de algum elixir se tratasse, esperando-se que a implementação de regras claras que a possam regular venha salvar a “industria” do futebol, quando, na minha opinião, não haverá muito a esperar dessa panaceia.

Partindo do pressuposto de que muitos clubes de futebol são geridos sob pontificado de interesses que lhe são estranhos a FIFA/UEFA começou por sugerir que as Federações/Ligas nacionais impusessem critérios objectivos de solvência financeira aos seus clubes, como condição de participação nas competições por elas organizadas.
Em Portugal, esperava-se que essas medidas terminassem com o escândalo dos salários em atraso e o resultado é o que se conhece: há vários clubes que continuam a não cumprir os seus compromissos com atletas, entre outros, e, ainda assim, continuam a competir, deslealmente, com os clubes cumpridores.
Tanto quanto eu sei, entre nós exige-se aos clubes, no inicio de cada época desportiva, a prova de terem as suas comparticipações sociais e impostos em dia, que não existam queixas por salários em atraso até ao mês de Abril anterior e, finalmente, uma garantia bancária que cubra parte do seu orçamento anual, mas todas estas regras têm sido insuficientes para garantir o que deveria ser garantido: que nenhum clube possa competir usando recursos (nomeadamente atletas) que não consegue pagar.

Ou seja, nem este nível mínimo de seriedade e/ou verdade está garantido, quanto mais outros bem mais determinantes como são os casos dos apoios, substanciais em alguns casos (vide os clubes da Madeira e o “braguinha”), concedidos por autarquias e/ou governos regionais.
Pior ainda, em Portugal existe um clubeco – o crac, ao qual foram concedidos perto de 3 centenas de milhão de euros (!), “a propósito” da construção do seu estádio (um valor total determinado pelo Tribunal de Contas e que resulta de “parcelas” oferecidas por duas autarquias – as do Porto e de Vila Nova de Gaia, e a empresa, pública, do Metro do Porto), fora a “oferta”, contra uma renda de aluguer de valor simbólico (ou deveríamos dizer ridículo?) do “seu” centro de estágios, sem que os imbecis e amestrados se escandalizem com a descarada distorção das condições de concorrência em favor do crac.

Em síntese, o que é um facto é que não só persistem todas as condições para que subsistam formas de “doping” financeiro que, por preferirem um clube em detrimento de outro, vão continuar a distorcer o que seria uma Verdade Desportiva em toda a sua pureza, como, infelizmente, todos sabemos que há bem piores distorções a essa Verdade Desportiva e, se nos casos de países como a Alemanha, a Itália ou, mais recentemente, até a Turquia, as noticias sugerem que são perseguidos e combatidos (e punidos) os que ultrajam o Desporto, entre nós eles são aclamados na Assembleia da República e aureolados pelos imbecis e amestrados.

A nível internacional, a FIFA/UEFA preocupam-se essencialmente em garantir que os clubes cumpram os compromissos que assumem com aqueles de onde adquirem passes de atletas e os que decorrem do designado mecanismo de solidariedade de que beneficiam os clubes onde os atletas foram formados. Exemplo disso mesmo foi a exclusão recente de um clube romeno das competições europeias e sequente descida de divisão na Roménia, por incumprimentos perante vários outros clubes, um dos quais o Glorioso.
Mais recentemente (ainda que já lá vão uns anos desde que o Platini começou a falar do assunto) e, creio eu, como forma de tentar impedir que alguns “multimilionários” adquiram clubes e os transformem naquilo que não têm estrutura (Sócios, sobretudo) para ser, talvez por recearem que episódios como o Marselha de Tapie ou o Atlético de Gil y Gil continuem a “envenenar” a imagem do futebol.

Por menos liberal que se seja (e eu sou, na maioria dos aspectos), não vejo como será possível a FIFA/UEFA impedirem um qualquer endinheirado de enterrar umas centenas de milhões num clube de futebol, ou de proibir um qualquer dirigente de delapidar, com uma gestão ruinosa (de alto risco), o património de um clube, condenando-o a encerrar.
As propostas de que ouvi (ou li) falar passariam por uma limitação dos custos salariais (ou do somatório destes com as amortizações) a uma certa percentagem (55% ou 85%, respectivamente) dos proveitos operacionais desse clube e mesmo considerando que a tirania de Blatter e Platini lhes permitiria contrariar os mais básicos princípios da economia de mercado, estou a ver uma boa meia dúzia de expedientes que impediriam tais regras de ter aplicação prática.

Uma coisa foi a tomada de consciência, com a falência do Lehman Brothers, de que as instituições financeiras não podiam continuar a ser deixadas ao quase integral livre arbítrio dos seus gestores (fortemente motivados para lhes inflacionarem os lucros). De facto e considerando que a insolvência de um banco (ou de uma seguradora) pode ter um efeito sistémico capaz de provocar a maior crise económica em toda a história do capitalismo, revelando, em dominó, muitas outras situações de insolvência potencial, resultou que até os mais liberais desataram a aceitar que é necessária uma regulação mais activa e interventiva nesse sector.
Outra coisa bem diferente seria convencer alguém da necessidade de tutelar a gestão dos clubes de futebol, espartilhando-a, ou sujeitando-a a mecanismos de controle que ultrapassem os mais elementares esquemas de verificação das obrigações contratuais.

Seja como for e do nosso ponto de vista Benfiquista, não devemos temer o eventual aparecimento dessas “regras”, pela simples razão de que o Nosso Grupo, mesmo ainda amputado do devido valor dos direitos de televisão pelo mamão chupista, detém os recordes nacionais de receitas, pelo que somos o Clube que mais pode (e deve) investir na sua principal Equipa – a de futebol.
Aliás e enquanto Benfiquistas, só temos razões para celebrar a extraordinária recuperação económica e financeira que conseguimos na última década, por mais que apareçam umas quantas “águias preocupadas” que, sem o menor fundamento, agitam o espantalho do Passivo.
E é por essa grande razão que o Companheiro Bagão Félix, indiscutível quer no Benfiquismo, quer na competência, se ficou por uma levíssima sugestão, para que a SAD fizesse reflectir na gestão das actividades e com alguma modéstia, os sinais recessivos que caracterizam a actualidade económica. Caso fossem fundadas, ainda que levemente, as preocupações dos mais cépticos e este Nosso Companheiro não deixaria de personificar o necessário grito de alerta.

Já no que toca a FIFA e a UEFA, muito sinceramente eu penso que elas deveriam era concentrar-se em impedir que a “indústria” se possa transformar em “circo”, a assegurar uma crescente objectividade nos critérios de arbitragem e, finalmente, a regulamentar a verificação tecnológica dos lances, a ver se conseguem erradicar todos os que, por melhores gestores que sejam, se assumam como símbolos da corrupção da Verdade Desportiva.

Viva o Benfica!
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Escrito por: PEDRO ÁLVARES CABRAL

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