quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Sentir Benfiquista

Quis o Enorme Águia Livre distinguir-me com um convite para passar a colaborar, em directo, digamos, neste blogue tão especial e, obviamente, a minha resposta só podia ser esta: vou continuar na linha das mais de duas dúzias de textos que ele aceitou publicar nestes últimos meses.

Como o que importa é o que, a partir de agora, aqui vou escrever (o que sinto e penso, além de como o justifico), entendi começar com a mais significativa história de Natal que vivi como Benfiquista.

Está a fazer 18 anos, na estrada (?) de Luanda e a cerca de 130 km do Lubango (antiga Sá da Bandeira). Num camião carregado com 2 contentores, um de frangos, outro de ovos, conduzido por um grandíssimo Benfiquista (e eu ia lá, se ele o não fosse, ahahah), Cuanhama ele próprio e chamado António.
Íamos levar Natal àquela cidade (depois da guerra acabar, depois das eleições e ... da guerra recomeçar), quando um bocado de asfalto fez com que o António metesse o rodado frontal em cima de uma mina.
Tractor para o caneco, galera e contentores para o galheiro, eu com uma dúzia de pequenos golpes e o António com um estilhaço na coxa, depois de lhe estoirar todo o joelho (hoje, os amigos chamam-lhe vaidoso e dizem-lhe que pare de imitar o ... S. Pedro).
Deito-o no melhor sítio (a cratera, pois claro), trato dele (tinha de tudo naquela carroça), com um belo garrote, telefono (satélite) a pedir ajuda e lá fico sentado a limpar-me e a dar-lhe conversa, para evitar que ele entre em choque.
Quando lhe começaram as dores a sério (mesmo por debaixo de 3 aspirinas), o António faz-me um pedido que é a razão de ser deste texto: ele queria ouvir o Hino!
Não o de Angola, não o de Portugal, o Nosso .... “Ser Benfiquista é ter na Alma a Chama Imensa”, nem mais!
Fui buscar o aparelho aos destroços da cabine, já equipado com a K7 que ele lá guardava e ele diz-me que “é só pôr a tocar, patrão”. Depois manda … “mais alto, patrão”.
Ali ficamos, já sem conversas (ali, só havia … Benfica!), entre o apertar e desapertar do garrote e a medida das pulsações, de ouvidos cheios, continuamente (o António tinha a única K7 que eu já vi com duas vezes 45 minutos do nosso Hino).
Para encurtar a história, aquele som foi ouvido por vários Benfiquistas, mesmo naquela terra de ninguém. Esses, para nos tranquilizar, mandaram até uns miúdos a avisar que já vinham.
Em menos de 2 horas, o António foi levado para o Hospital do Lubango, onde lhe salvaram a perna e a vida, enquanto eu já descansava, a uns 20 km do local da armadilha, agarrado a uma “bem gelada” e ao telefone por satélite.

Eu nasci para o Benfiquismo a ouvir os relatos (em francês) das nossas vitorias de 61 e 62 (não tenho a certeza de qual delas), quando o nome do Glorioso calava quer a metralha, quer a trovoada tropical e, talvez por isso, sinto o Clube de uma forma que está nos antípodas da “insustentável leveza do ser”: o meu Benfiquismo é “pesado”, sério e estará, sempre, ligado aos Valores que animaram os Fundadores – Universalidade, Solidariedade, Democracia e Desportivismo.

Ainda hoje me escrevo com o António e sempre me despeço dele como ele me ensinou que se deve fazer entre Benfiquistas.

Viva o Benfica!

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