Horas depois da conquista do 37, e apesar de ainda não termos estabilizado
os níveis de adrenalina, podem-se começar a fazer os balanços desta época que
nos levou do inferno ao céu.
Sem querer repisar a análise aqui feita à forma como perdemos o título na
época passada (que seria o penta...), importa reflectirmos sobre esta época e,
agora que já só olhamos para a próxima, analisarmos o que fizemos bem e o que
fizemos mal, para que, em 2020, o 38 não seja tão sofrido.
E, sendo uma época que começámos mal, a tal não é indiferente o facto de
termos começado a mesma com um treinador que nos anos anteriores já havia
demonstrado claramente as suas limitações. O que aconteceu na primeira fase da
época era assim, tão só e infelizmente, previsível para quem segue o fenómeno
futebolístico com alguma atenção.
Assim, são de destacar como pontos negativos:
1 - Manutenção de Rui Vitória
Um treinador desgastado, incapaz de dar a volta aos acontecimentos e que
foi sendo cada vez mais, mais parte do problema do que da solução, e cuja maior
crítica que lhe faço foi não ter percebido, em nome do Benfica, que não tinha
condições para mais, pelo que devia ter saído no final da época passada.
2 - Política de Contratações
Quem olhe para o vaivém de jogadores do Benfica esta época dificilmente
encontra lógica ou projecto na política de contratações.
Como se explica a contratação, logo seguida da dispensa (contra a vontade
do treinador de então), do melhor jogador da segunda liga da época passada -
Chiquinho? Que, entretanto, demonstrou ser um dos melhores médios do campeonato
e por isso lá vamos pagar mais uns milhões para o resgatar...
Como se explicam as contratações sonantes de Ferreyra, Castillo e Lema para
serem dispensados em Janeiro? Lema que apenas fez um jogo, logo contra o Porto
em casa em que foi um dos melhores em campo...
Como se explicam as contratações de Alfa Semedo (também despachado em
Janeiro), de Conti e de Corchia? Jogadores que sempre pareceu nunca contarem
para o anterior treinador...
Afinal a política de contratações é definida pela estrutura sem ouvir o
treinador? Como é possível???
3 - Gestão do plantel e da equipa
Não falei atrás da contratação de Gabriel por uma razão muito simples. De
um jogador que parecia um flop nas mãos de Rui Vitória, capaz de tirar qualquer
um do sério, tornou-se um imprescindível quando teve um treinador que soube potenciar
as suas capacidades e características.
E que dizer do enorme Samaris? Proscrito, humilhado por Rui Vitória, onde
era suplente até contra o Montalegre, nunca deixou de ser um grande
profissional e tornou-se peça fundamental na reconquista.
Suplente de Alfa Semedo e até, pasmem-se, de Felipe Augusto, nunca perdeu o
brio e foi recompensado (ele... e nós).
Aquilo que era óbvio para todos nós, só não o era para o treinador. Não só
as escolhas para o 11, como também as substituições (que chegaram a ser as
mesmas aos mesmos minutos em jogos consecutivos), bem como o
sistema táctico, demonstravam bem o nível de acaso e de aleatório a que
estávamos sujeitos.
As exibições sofríveis da equipa, sobretudo nos jogos fora, deixavam sempre
antever os acidentes (maus resultados) na iminência de acontecer.
Quem viu o Benfica jogar contra o Montalegre (e vencer por ... 1-0) numa
exibição de nos fazer corar de vergonha, não reconhece a metamorfose que
aconteceu pouco mais de 2 semanas depois…com a entrada de um treinador…
interino…
4 - Saídas de Shéu e de Luisão
Sem se perceber muito bem porquê, durante a época, saíram do dia-a-dia da
equipa/plantel duas figuras marcantes de muitos e muitos anos: Shéu e Luisão.
Se o afastamento do Senhor Shéu, até é compreensível dada a sua necessidade
e vontade de descansar, já o fim da carreira de Luisão passados pouco mais de 4
meses da renovação do contrato foi, no mínimo, incompreensível…
A participação destas duas figuras do benfiquismo na festa do 37 diz bem
mais do que aparenta…
5 - Campanha suja montada por Pinto da Costa e Bruno de Carvalho
Esta foi mais uma época em que assistimos ao desenrolar da campanha mais
nojenta de que há memória em Portugal, fruto da Santa Aliança selada por Pinto
da Costa e Bruno de Carvalho e executada pelos seus pombos correio, Francisco “Goebbels”
Marques e Nuno “pigmeu” Saraiva. Enquanto o Benfica andou pelas ruas da
amargura a arrastar-se em campo, ainda nos deixaram em paz; quando perceberam
que o Benfica estava a recuperar lá vieram as notícias e os tweets plantados
com o objectivo de criar ruído e condicionar as arbitragens dos nossos jogos,
mas também dos jogos deles.
6 - Arbitragem/VAR/Órgãos de Disciplina e de Justiça
Prova de que a campanha suja teve algum efeito, foram os inúmeros erros de
arbitragem (e do VAR) em benefício constante dos mesmos (o FC Porto acabando com
mais 10 pontos do que deveria ter e o Sporting quase igualando o record de penaltys
(que também é seu); penaltys esses assinalados por duas razões: por tudo e por
nada!
Paralelamente às arbitragens, a época fica marcada pelas decisões inenarráveis
do Conselho de Disciplina: mão pesada para o Benfica por “dá cá aquela palha” e
mão muito leve para Porto e Sporting, mesmo quando estavam em causa agressões,
ameaças e coacção aos vários agentes desportivos.
A cereja no topo do bolo será mesmo as inúmeras tentativas de interdição da
nossa Catedral por actos que, infelizmente, se verificam um pouco por todos os
estádios.
7 - Comunicação Social
Parte activa na estragégia conjunta de Porto e Sporting, a comunicação
social desempenhou um papel vergonhoso, subserviente, incendiário que a
tentativa de vender jornais, revistas e livros com o 37 não pode apagar.
A generalidade da comunicação social, exceptuando, honra seja feita, o jornal
“A Bola” funcionou sempre como caixa de ressonância dos interesses portistas e,
essa sim, como verdadeira cartilha subjugada a esses interesses.
Apesar de tudo isto, de todas as campanhas da santa aliança, a verdade é que
não conseguem identificar nos emails, nos vouchers, nas toupeiras ou onde quer
que seja, um jogo ou um ponto que o Benfica tenha ganho devido ao que quer que
seja que conste desses processos.
Aqui chegados, dando por finalizados os pontos negativos da época, deixo algumas
notas que também marcam a época do Presidente Luís Filipe Vieira:
Notas negativas:
- A “luz” que LFV viu quando decidiu manter Rui Vitória podia ter sido um
comboio em sentido contrário. Decisão claramente errada, como errado foi manter
RV depois da temporada anterior.
- Entrevista ridícula no programa da manhã de um canal de televisão, ainda
por cima na SIC, órgão central do ataque ao Benfica
- A criação e manutenção da expectativa em redor do nome de José Mourinho
para treinador do SLB
- A pérola atirada aos sócios e adeptos de que ainda iríamos ter muitas
saudades de Rui Vitória, se não fosse surreal e tivesse uma nesga de verdade
significaria que o Benfica estaria hoje num dos momentos mais negros da sua
história.
Estas notas negativas constrastam com a aposta (inicialmente de recurso e
só posteriormente assumida) em Bruno Lage.
Quanto aos pontos positivos da época:
1 - Bruno Lage
- Homem humilde, treinador que fala de futebol e foge ao discurso redondo e
vazio a que fomos sujeitos ao longo dos últimos anos.
- Recuperou jogadores (e activos) proscritos (Gabriel, Samaris e até, o
improvável …Taarabt!) apostou nos jovens de forma consequente, não se limitando
a pôr uns atrás dos outros e rezando para que algum resultasse (quem não se
lembra de Clésio Batuque, Aurélio Buta, entre tantos outros…)
- Teve com ele os jovens, mas teve também os consagrados do plantel unidos até
ao fim em torno do 37.
- Conquistou o balneário e conquistou os adeptos, com o seu discurso mas
sobretudo com trabalho, com boas exibições, com golos, com a melhor 2ª volta da
história, com a recuperação mais épica em 85 campeonatos, com números só vistos
há 50 anos atrás…
- Ganhou em Alvalade, Drgão, Braga, Guimarães, Moreira de Cónegos, um
percurso imaculado fora de casa e em que poucos ou nenhuns acreditariam.
2 - Bruno Lage
Bruno Lage personifica o Benfica, com a simplicidade de quem faz parecer as
coisas fáceis, incorpora como nenhum outro treinador nas últimas décadas, a
mística, a raça, o querer (e o crer) e a ambição!
Bruno Lage é o grande obreiro do 37, fazendo o que nenhum outro (provavelmente
nem Mourinho) faria.
Algo que, a 3 de janeiro, provavelmente nenhum benfiquista acreditava (e,
claro, menos ainda os adeptos portistas e sportinguistas).
3 - Bruno Lage
- Recuperou animicamente o plantel
- Recuperou jogadores que estavam “mortos” com Rui Vitoria
- Recuperou o sistema de jogo que dá títulos em Portugal
- Lançou jovens de forma estruturada
- Praticou um futebol positivo, atractivo, onde voltou o prazer pelo jogo e
pelos golos
- Pela elevação no discurso, pela forma simples como sabe transmitir a sua
mensagem
- Porque mesmo que não fôssemos campeões já teria valido a pena por nos ter
devolvido os batimentos cardíacos mais acelerados quando joga o glorioso, em
contraste com o medo que se estava a apoderar do nosso estado de espírito até
quando íamos jogar com o Montalegre.
4 - Adeptos
Para lá do Bruno Lage, herói natural do 37, os adeptos merecem uma palavra.
Quando foi preciso, quando pareceu que a equipa estava a abanar, o 12° jogador
apareceu e transformou cada estádio, cada bancada, cada rotunda, num verdadeiro
inferno da luz.
De forma apaixonada, de forma dedicada, onde prevaleceu sempre (não obstante
um ou outro episódio) essa paixão pelo Benfica em detrimento do “ódio” aos
adversários e essa é, também, uma marca distintiva das vitórias do Benfica para
as vitórias dos outros.
Por fim, estão também de Parabéns as mulheres do Benfica que venceram de
forma brilhante a Taça de Portugal em futebol e o Heptacampeonato no Hóquei!
O futuro só pode ser nosso!
Viva o Benfica!
*Nota: correspondendo ao repto do nosso treinador esforcei-me por tratar os
rivais pelo nome
ASSINADO !!!
ResponderEliminarFernando;
Apareces pouco mas quando dás gás à caneta arrancas com belas e verdadeiras prosas.
Nota:
- Samaris até do Danilo foi suplente.
- O Lage que era só para duas semanas, deu a volta por cima para nosso deleite. E foi tão simples. Estavam todos lá...mas havia pouca luz.
Soberba publicação! Tudo dito!!! Parabéns e muito obrigada por me/nos deliciar com esta bela "reflexão" pós campeonato! ;)
ResponderEliminarHoje, passo a palavra aos meus leitores ...
.
Momentos...
Beijo e um excelente dia!
O BRUNO LAGE é o culpado que eu tenha festejado a vitória do vosso BENFICA com satisfação. Um homem que dá um bom exemplo de desportivismo e educação.
ResponderEliminarA tua publicação é também para minha satisfação, Ricardo. Simplesmente excelente.
Saudações cordiais de uma portista que detesta rivalidades tanto no futebol, na política, na religião. Se eu fosse crente, diria todos nós somos filhos de Deus:-*
Minha bela menina azul.
EliminarO Ricardo é um escriva e poeta de eleição, mas este post foi feito pela caneta, também dourada, do Lisboeta Fernando Henrique..que de quando em vez no delicia com prosas de alto calibre repletas de Chama Imensa.
É pena ser tão...preguiçoso!
Muitíssimo obrigada pela informação. Só agora é que compreendi, que este blogue tem quatro colaboradores. Gosto de entrar na boca do lobo e fugir logo, daí não ter compreendido que autor é o Fernando Henrique. Prometo para a próxima vez, tomar atenção, não só no conteúdo como também quem o escreveu.
EliminarSaudações cordiais de Düsseldorf:-*
Querida amiga ematejoca
Eliminaro amigo Viriato de Viseu, esse grande e incomparável benfiquista, já elucidou a amiga de quem escreveu este belíssimo post.
Falou... está falado
Fique feliz.
Maravilhoso post. E assim escreve um benfiqusita. Viva o Benfica sempre.
ResponderEliminarEste deve ser eleito o post do ano,que categoria que classe,eu sou fan dum outro escriba que se chama Guachos Vermelhos,mas este do Fernando esta sublime,esta ao nivel do Ricardo nos seus tempos aureos,sublinho mesmo que Ricardo,Fernando e Guachos enchem-me as medidas por favor Fernando escreve mais vezes e tu Ricardo porque te retiraste tao cedo ou jovem,aquele abraço voçes sao uns campeoes aquele 37 e especial para todos nos benfiquistas VIVA O BENFICA.
ResponderEliminarSublime.
ResponderEliminarGrade e ilustre post. Sem dúvida um ex-libris na arte de bem escrever sobre o nosso Benfica. Gostei muito.
ResponderEliminarBruno Lage foi sem qualquer dúvida o grande obreiro deste título. Conseguiu criar uma união entre ele e os jogadores simplesmente fantástica.
Para a época que vem haverá mais futebol e, acredito, ainda mais Benfica.
VIVA O BENFICA PORRA.
Fantástico texto que só hoje consegui ler. Muito bem escrito e uma realidade tudo o que está escrito.
ResponderEliminarViva o Benfica.
Querida ematejoca
Nem parece Portista. Tem alma de Benfiquista. Bem haja.