Entrevista
a Rui Costa
Rui
Costa, atual presidente e novamente candidato à liderança do
Benfica, aborda a atualidade do clube e do futebol português numa
entrevista ao Now, às 18h50. Siga também aqui em direto.
«Estou
bastante confiante para o jogo com o FC Porto»
Está
confiante para o jogo de domingo?
"Bastante.
Não foram semanas fáceis estas que antecederam este jogo. Ainda
assim, por aquilo que tenho visto dos trabalhos e da evolução da
equipa, estou bastante confiante".
Sente
que o jogo será decisivo para a sua reeleição?
"Não
deveria ser, mas acredito que, pela parte emocional de um adepto,
seja natural que a equipa estar ou não estar bem possa ser
implicativo no desfecho. Ainda assim, enquanto presidente, a única
coisa em que penso é na preparação da equipa e que possa sair do
Dragão com a satisfação que os adeptos merecem".
«Não
vamos sair do Dragão com 7 pontos de atraso»
E
se não sair [com a vitória do Dragão]?
"O
Benfica fica mais atrasado no campeonato mas não perde nada para já.
Estamos a falar de 7 pontos. Perdemos estes 4 pontos em casa que não
deveríamos ter perdido e deixam-nos nesta situação. Mas nenhum
campeonato se decide nesta jornada. Temos tido vários episódios ao
longo dos últimos anos de alguma distância do 1.º, 2.º e 3.º
classificados, mas não me passa pela cabeça e não vou estar a
pensar que o jogo não nos vai correr bem, porque não vamos sair do
Dragão com 7 pontos de atraso".
O
jogo com o FC Porto vai ser mais difícil do que contra o Chelsea?
"São
jogos diferentes, bastante diferentes. Um é internacional, de
Champions e com um adversário que acabou de ser campeão do mundo.
José Mourinho diz que é mais difícil? É o nosso treinador a falar
e tem todo o conhecimento das equipas e do futebol. Os jogadores
sabem que não há vitórias morais. Perdemos contra o Chelsea, mas
ficámos com a consciência que a resposta foi boa, sobretudo dentro
do que estavam a ser as prestações da equipa. Isso dá-nos a
preparação psicológica para o jogo do Dragão, que não será
fácil".
As
declarações pós-Chelsea? «Mourinho quer dar gás aos jogadores do
Benfica»
José
Mourinho cometeu um erro ao dizer que o Chelsea é melhor do que o FC
Porto?
"Quer
dar gás aos seus jogadores, ao Benfica e é essa a sua função.
Pouca gente neste mundo de futebol lhe pode dar lições do que é
preparar jogos. Fico agradado que o meu treinador esteja tão
otimista para o jogo no Dragão, mesmo sabendo que não é fácil e o
que está em jogo. Fico satisfeito com a mensagem do nosso treinador
e da confiança com que está para esse jogo. Temos de contar com
isso".
«Confio
muito nas mensagens passadas por José Mourinho para os nossos
jogadores»
Se
fosse jogador do FC Porto, sentir-se-ia mais motivado?
"Quando
se chega a estes jogos, e posso falar como presidente, dirigente e
jogador, a motivação já lá está. São jogos de alta motivação,
concentração. Confio muito nas mensagens passadas por José
Mourinho para os nossos jogadores. É por aqui que importa pensar, é
por aqui que importa preparar o jogo. Não a pensar no que o
adversário está a pensar, mas naquilo que temos de resolver dos
nossos problemas".
«Prémio
para o Dragão? Os jogadores têm os prémios estipulados no início
da temporada»
Prometeu
algum prémio aos jogadores caso consigam vencer o FC Porto?
"Os
jogadores têm os prémios estipulados no início da temporada. Não
é por mais ou menos prémio que um jogador do Benfica ou de outro
clube qualquer vai estar, num jogo destes, a pensar nisso. Há
prémios estipulados para classificações e é o que vai acontecer".
«Do
que tenho assistido, à forma como Mourinho trabalha, deixa-me
extremamente satisfeito»
Contratação
de Mourinho é suficiente para inverter o rumo atual?
"Nunca
nada é suficiente. Mas se foi a medida que melhor encontrámos para
inverter o que estava a acontecer... É um treinador completamente
capacitado, dos melhores do mundo e da história do futebol moderno.
A sua qualidade fala por si, e a sua experiência e saber estar em
momentos assim ajudou a que a escolha não fosse difícil. Muito
contentes estamos nós e os benfiquistas também devem estar por um
treinador destes ter aceitado voltar ao Benfica à primeira. E
assumir a equipa neste momento no estado em que estava, e no momento
que o Benfica vive, que também não é fácil. Do que tenho
assistido, à forma como trabalha, deixa-me extremamente satisfeito".
O
Rui Costa adepto gostava do futebol das equipas de Mourinho nos
últimos anos?
"Temos
de analisar um bocadinho de tudo. O próprio respondeu na sua
apresentação dizendo uma frase que me agradou muito: 'Se o meu mau
currículo dos últimos anos foi ter chegado a duas finais
europeias...'".
Mas
as equipas de Mourinho nem sempre trazem um futebol atrativo...
"Costumamos
dizer que no Benfica não basta ganhar, tem de ser ganhar bem. Pela
exigência do clube. Mas não estamos a falar de uma pessoa que não
conheça o clube ou a história do futebol português, e portanto
está mais do que preparado. Para analisar as prestações, exibições
ou a qualidade do jogo de Mourinho nos últimos anos, também temos
de avaliar que clubes treinou. Um treinador não pode ser campeão
num clube que não está a trabalhar ou com plantéis para isso.
Mourinho passou um bocado por isso. Fala-se do Man. United e foi o
último a ganhar algo por lá. A Roma nunca tinha conseguido um
troféu europeu, ganhou um e foi a outra final. Isso não me
preocupa".
«Mourinho
também sabe esta frase: 'No Benfica não basta ganhar, tem de se
ganhar bem'»
E
no que diz respeito às exibições? Interessam mais os resultados?
"O
resultado pode aparecer num mau jogo. Um campeonato não pode ser
ganho com maus jogos. Ele sabe muito bem qual a exigência de um
clube como o Benfica, ninguém ensina isso. Até por conhecer e
acompanhar o futebol português. Mas ele também sabe esta frase: 'No
Benfica não basta ganhar, tem de se ganhar bem'. Ele sabe essa
parte".
E
tem plantel para isso?
"Ele
tem plantel para isso. Elogiou o plantel do Benfica quando defrontou
o Benfica no playoff da Champions. E nós cá estamos para avaliar o
que possa correr bem ou menos bem ao longo da temporada".
«Se
Mourinho me pediu reforços? Não. Fez um reparo óbvio porque falou
das idades dos jogadores»
Mas
Mourinho até já fez alguns reparos ao plantel... A dizer que só
nos centrais é que havia uma alternativa à altura, já disse que vê
muitos jovens no banco...
"Era
essa a palavra. Tenho conversado com ele todos os dias. Se me pediu
reforços? Não. Fez um reparo óbvio porque falou das idades dos
jogadores. O plantel foi construído também com base em dois
jogadores, o Bah e o Manu, que espero que estejam de regresso [em
breve], têm duas lesões desde a época passada. Já estão muito
perto. É a nossa ambição e a deles também. Fazem falta ao
plantel. O banco, hoje, é jovem por opção nossa. Todo o plantel é
jovem. Temos seis jogadores acima dos 25 anos, foi a reestruturação
que fizemos no futebol também, alterar a média de idades, trazer
competência e futuro ao Benfica. O banco ser jovem é também pela
aposta grande na formação. Mais cedo ou mais tarde, estes miúdos
têm de ir lá para dentro, têm valor para isso".
«Se
for preciso algo em janeiro para reparar, emendar ou reforçar, cá
estaremos»
Como
acha que os benfiquistas ouvem o treinador dizer que há demasiados
jovens quando se gastam 100 milhões?
"Fizemos
um investimento forte no que considerávamos ser melhorar. Começando
no 11 para depois ir ao restante. Começámos pela contratação do
Dedic, depois os dois médios e daí para a frente. Fizemos um
mercado assertivo, imponente, com um custo alto, mas trouxemos
jogadores de qualidade, internacionais, que possam garantir o Benfica
quer desportivamente quer, mais tarde, financeiramente. Naturalmente
nenhum plantel está completo sempre. Se for preciso algo em janeiro
para reparar, emendar ou reforçar, cá estaremos".
Mas
tem alguma verba reservada para isso?
"Temos
sempre soluções e arranjámos soluções para isso. Essa é uma das
partes que tem sido positiva no Benfica, pese embora se fale muito da
parte financeira. É importante que os sócios percebam isto. Por
muito que se fale na parte financeira do Benfica, o Benfica está
muito estável financeiramente. Os resultados deste ano comprovam
isso mesmo. Tivemos grandes inversões neste último exercício. Toda
uma estratégia aplicada do primeiro dia até hoje. Se precisarmos de
melhorar, estaremos sempre prontos".
Garante
que não houve contactos com Mourinho antes da saída de Lage: «Dou
a minha palavra de honra»
Disse
que os valores do contrato de Mourinho não eram superiores aos de
Schmidt...
"É
dentro da ordem dos de Roger Schmidt. Foi aquilo que referi. E como
disse numa intervenção, não venho para as televisões perguntar
quanto ganha o fulano A ou B. Não me parece sequer legítimo
perguntarem o salário do treinador".
Mas
os adeptos têm essa curiosidade...
"Naturalmente
toda a gente tem curiosidade em saber quanto ganha o vizinho do
lado... Quanto mais o treinador do Benfica".
"Isto
é mérito também de José Mourinho, quis mesmo vir para o Benfica.
E o Benfica percebe que tem de pagar por um treinador desta
envergadura. Mas teve o bom senso, algo que me deixa muito feliz, de
perceber que no Benfica não poderia ganhar os salários pagos nos
clubes em que esteve toda a vida. É o salário mais baixo que
Mourinho tem desde que saiu de Portugal há muitos e muitos anos.
Isso também mostra a vontade que teve em vir para o Benfica. Não me
leve a mal, mas Mourinho, assim que acaba de sair de uma equipa, tem
montes de equipas a querê-lo. O facto de aceitar o projeto do
Benfica e aceitar que Portugal não é, em termos de moeda, o mesmo
que países que representou ultimamente, deixa-me muito feliz. Teve
muito bom senso em perceber onde o Benfica poderia chegar".
Como
se chega a um acordo tão rápido com um treinador? Entende que as
pessoas possam estranhar que não tenham existido contactos antes?
"No
Benfica tudo parece estranho porque tem de ser falado. Se demorasse
quatro ou cinco dias a escolher, ia dizer-se que o Benfica despediu
um treinador sem ter nada na mão para ter outro treinador. O Benfica
trabalhou bem nesse aspeto. No dia seguinte, já estava a pressionar,
a contactar, a fazer tudo o que era necessário para ter um treinador
antes do jogo na Vila das Aves, que foi o que disse no dia em que
Bruno Lage saiu. E no dia seguinte, o Benfica fez o trabalho que lhe
competia para garantir um treinador desta envergadura".
Garante
que, antes do despedimento de Lage, não houve contactos com
Mourinho? Nem Mário Branco?
"Dou
a minha palavra de honra. Mesmo que Mário Branco, que não é o
caso, tivesse feito algum contacto, a decisão tinha sido minha".
Mas
já sabia que Mourinho estava inclinado a aceitar um convite?
"Eu
falo com Mourinho no dia seguinte logo pela manhã. Peço-lhe uma
reunião. Tivemos a reunião. Houve vontade da parte dele, houve a
proposta em cima da mesa, a contra-proposta. Chegando a acordo, no
final do dia as coisas estavam concluídas".
«Para
mim as situações [de Lage e Schmidt] não são iguais»
Arrepende-se
de ter começado a época com Bruno Lage?
"Não.
De todo. Para mim as situações [de Lage e Schmidt] não são
iguais. Estão longe de ser iguais. Tentei, e tento, que o Benfica
tenha alguma estabilidade em termos de técnicos e jogadores, ainda
que haja muito a melhorar. No que diz respeito ao treinador, pretendo
sempre uma continuidade. Acima de tudo, esta é a principal razão
para a continuidade de Bruno Lage. Mas depois também havia dois
aspetos muito importantes: vínhamos do Mundial de Clubes, de uma
temporada de 60 jogos. Sem férias, sem pré-época e a ter de jogar
de imediato uma Supertaça, um troféu entre os dois grandes rivais".
«Schmidt?
Não direi que fui teimoso. Posso ter acreditado demasiado que se
podia inverter a situação do ano anterior»
Benfica
aceitou jogar naquela data...
"As
datas tinham sido marcadas há meses. O Benfica achou que não era o
ideal mas não temeu a situação. A verdade é que teve a Supertaça
de imediato e uma eliminatória de Liga dos Campeões, uma competição
na qual o Benfica não poderia ficar de fora. E a pergunta fácil é
'quem estaria pronto para agarrar os jogadores que tinham acabado a
época e começar outra neste estado?'. Não só não me arrependo,
como a decisão deu frutos: ganhámos a Supertaça e fomos apurados
para a Champions. Não me arrependo em nada por estas três razões
que acabo de explicar. Já o tinha explicado. Parece-me evidente e
fundamental. Voltava a fazer o mesmo. Schmidt, não direi que fui
teimoso. Separo um bocado as águas. Não digo que fui teimoso. Posso
ter acreditado demasiado que se podia inverter a situação do ano
anterior. Programámos a pré-temporada, um plantel mais à imagem do
primeiro ano de Roger Schmidt. Sempre considerei que o que ele tinha
feito no primeiro ano não tinha sido obra do acaso. A qualidade do
treinador estava lá, era preciso encaixar peças que não tinham
sido encaixadas no segundo ano. A pré-temporada não corre mal,
corre substancialmente bem, mas o início de campeonato, que seria
fundamental, não correu bem. Tivemos logo a perda de pontos
importantíssimos, que nos afastaram de estar na frente".
«Jogo
com o Santa Clara? Não há calendário nenhum que não seja decidido
entre a estrutura e o treinador»
Bruno
Lage falou num "erro metodológico" ao ter o jogo com o
Santa Clara naquele dia. Quem tomou esta decisão?
"Também
já expliquei um bocado essa parte. Não há calendário nenhum que
não seja decidido entre a estrutura e o treinador. Confio plenamente
nas pessoas que tenho à frente e foi algo que nunca foi discutido no
Benfica. Nunca houve um episódio como este, de discutir se o Benfica
fez ou não bem em jogar num dia. Mas as premissas para se jogar
neste dia foram decididas nessa reunião. A alteração da 1.ª
jornada é pelo mesmo motivo. Não podemos estar aqui a bater numa
tecla que não faz muito sentido. Se perdemos um dia no jogo com o
Santa Clara, ganhámos um para o Qarabag. A primeira reunião
decisória dos calendários foi feita em conjunto. Se depois, por
algum motivo, podemos pensar que poderia ser melhor alterar, já são
outras consequências".
"Os
jogos não podem ser alterados só porque nos apetece. O jogo foi
marcado dentro das condicionantes que nos fizeram alterar o da 1.ª
jornada. E teríamos de respeitar isso até pelos dias que ainda
vamos ter para a frente sobre esta matéria. E se perdíamos um dia
para o jogo do Santa Clara, ganhávamos um para o jogo com o Qarabag.
Não pode ser tema, não vai servir de desculpa para mim".
O
documento para não ser despedido até final de setembro: «Houve uma
conversa comigo, onde expliquei a Bruno Lage que isso não podia ser
tema»
Muito
se falou da tal cláusula de confidencialidade. O advogado de Bruno
Lage referiu que este tinha pedido para assinar um documento de forma
a não ser despedido até ao final de setembro. Confirma?
"O
Bruno Lage teve uma conversa comigo sobre isso, não disse que tinha
de assinar o documento. Não vou assinar documento nenhum com
treinador nenhum que até ao dia X do mês Y não o vou despedir ou
vou aumentá-lo. Isso nem faz parte do futebol. Com todo o respeito
pelo Bruno. Houve este tema, que foi eliminado de imediato. O Bruno
percebeu. Sou presidente do Benfica. Não posso estar a assinar
contratos com treinadores que até ao dia X do mês Y não vou
renunciar o contrato. São coisas que não fazem parte do futebol.
Houve uma conversa comigo, onde lhe expliquei que isso não podia ser
tema. Não houve documento nenhum assinado e nós fizemos o nosso
trabalho".
E
nunca deu a entender que assinaria?
"Não.
Teria de estar a cometer um erro crucial e brutal naquilo que é a
gestão do plantel e do treinador. E honestamente, tenho a dizer que
foi uma dor para mim, como é sempre, ter de despedir um treinador,
muito mais quando tinha uma ligação muito forte. Trabalhámos na
formação do Benfica, tive todo o conhecimento do crescimento dele,
depois trabalhei com ele na equipa principal na primeira passagem.
Custou-me muito a conversa de 'Bruno, temos de nos dividir aqui'. Uma
coisa é a relação pessoal, outra é a missão que tenho enquanto
presidente do Benfica. Jamais poderia assinar um documento assim".
«Desde
que começou a época até hoje, nunca foi falado dentro do balneário
a parte das eleições»
Bruno
Lage foi acusado de fazer campanha por si... Pediu-lhe algo?
"Parece-me
injusto esse rótulo, nunca foi intenção dele. Mas cheguei a ter
conversas com ele a dizer 'foca-te na equipa, é a única coisa que
queremos que faças neste momento'. Podia ter dito alguma coisa de
boa vontade em algum momento, mas isso nem é do Bruno e jamais
poderia ter sido pedido algo assim. Desde que começou a época até
hoje, nunca foi falado dentro do balneário a parte das eleições.
Nem com treinadores, nem com jogadores, nem com staff. A missão de
quem está no Benfica neste momento é focarem-se nos objetivos, que
é ganhar. Não há conversas de eleições. É evidente que ninguém
está imune ao que se está a passar, mas da minha parte não há
conversas nesse aspeto e não se fala disso no balneário".
Sente
que Bruno Lage se excedia nas conferências?
"Quando
disse há pouco que me custou muito a parte de me dividir do Bruno,
não foi só pela relação que temos os dois, mas sim porque o Bruno
vive o Benfica. Estávamos perante um treinador que era um adepto
também, bem como a equipa técnica. É natural, e sendo uma pessoa
muito natural e expansiva enquanto homem, que tentasse dizer muitas
vezes o que lhe ia na alma. Quando digo que tive essas conversas com
ele, para cada um se focar na sua função, tanto podia ser neste
momento de eleições como noutro qualquer".
Mas
Lage falava do mercado, da comunicação do Benfica...
"Dizia
aquilo que lhe ia na alma. Não por maldade de querer criar algum
conflito, mas por ser muito genuíno e lhe dizer o que vai na alma.
Pedimos-lhe a ele, como pedimos a todos - não é uma circunstância
incomum - quando alguém se está a desfocar, que nos foquemos nas
nossas missões. É natural".
Bruno
Lage quase revelou que o Rui se ia recandidatar...
"Sim,
mas acho que eu nem sequer lhe tinha assumido isso quando ele falou
disso a primeira vez. As primeiras pessoas a saberem foi a minha
família, quando vim dos Estados Unidos".
Chegou
a pensar em não avançar?
"Cheguei
a pensar sempre onde posso servir este clube e foi isso que me fez
avançar, é por isso que estou aqui. Ponderei sempre tudo, mas
sempre com uma vontade grande de continuar a trabalhar neste clube".
«Richard
Ríos é um ótimo jogador. Mostrou isso no passado e vai mostrar»
Bruno
Lage disse que Richard Ríos chegou através de si. Confirma?
"Confirmo
que todos os jogadores que chegam, conheço-os e vejo-os. Não tanto
como gostaria porque, na minha função, não tenho todo esse tempo,
mas por isso é que temos uma vasta estrutura. Fiz comentários sobre
o Ríos, bem como sobre outros jogadores. Mas foi um jogador aprovado
pela equipa técnica, pelo scout, pelo diretor-desportivo, pelo
diretor-geral...".
"Rui
Costa nunca, nestas funções de presidente, teve a situação de
dizer 'quero este jogador e este jogador vem'. Há muitos jogadores
que chegam via presidente, outros via diretor-desportivo. O mundo do
futebol é mesmo assim. O Richard Ríos estava na nossa base de dados
há muito tempo fruto do que fez no Palmeiras, do que tem feito na
seleção da Colômbia. Hoje é tema porque, claramente, ainda está
numa fase de adaptação ao futebol europeu. Agora teve a
infelicidade de fazer o autogolo no Chelsea e pode ser tema. Para nós
não é tema. O Richard Ríos é um ótimo jogador, um ótimo ativo
que o Benfica tem. Mostrou isso no passado e vai mostrar".
Não
teme que possa vir a ser um flop?
"Não,
não temo".
Bruno
Lage também disse que Manu foi uma sugestão sua...
"Também...
Por exemplo. Mas a situação de ser o presidente a sugerir ou não,
é de estarmos a comentar jogadores. E eu sou uma pessoa do futebol,
não pode ser novidade olhar para um jogador e dizer 'gosto deste
jogador'. Mas isso não implica que esse jogador venha, caso
contrário tínhamos 500 jogadores. Se cada vez que eu disser bem de
um... Até reduzi muitos os ativos do Benfica. Muitas vezes até são
conversas circunstanciais a ver-se os jogos. Quando já estávamos
nos Estados Unidos, lembro-me de ver o jogo entre Argentina e
Colômbia, no qual o Ríos estava a fazer um ótimo jogo, e até
comentei 'o Ríos está a jogar muito'. Mas isso não implica que o
jogador não estivesse já referenciado. Aliás, até posso, e acho
que não faz mal nenhum, dizer que já tínhamos olhado para ele. Mas
estava a preços proibitivos, muito mais do que os 27 milhões. E
embora este ano tenhamos pago bastante por ele - e os valores de
mercado estão assim -, o ano passado tinha custado muito mais".
«Obrador
está mais atrasado em relação ao que todos pretendiamos. Vamos
dar-lhe esse tempo de maturidade»
Lage
também diz que tanto Rui Costa como Rui Pedro Braz lhe disseram que
Obrador chegava ao Benfica melhor do que Álvaro Carreras quando
chegou. Mourinho deixou Obrador de fora das escolhas...
"É
um miúdo em quem confiamos e que esperamos que venha a ter um grande
futuro. Lembro-me de ter sido contestado de ter metido a cláusula de
recompra [para o Man. United] no Carreras. Temos de lhe dar tempo.
Nem todos têm a maturidade suficiente para jogar de imediato nesta
dimensão, mas isso não implica que o jogador não tenha qualidades
para dizermos 'este jogador vai dar'. É essa a esperança que temos
nele. Está mais atrasado em relação ao que todos pretendiamos.
Vamos dar-lhe esse tempo de maturidade, estamos a falar do
defesa-esquerdo dos sub-21 da Espanha, não de um jogador qualquer
que fomos buscar a um lado qualquer e que não sabemos o que estamos
a fazer".
«Palavras
de Varandas? Há coisas evidentes, tem havido jogos com muitas
evidências sempre para o mesmo lado»
Como
é que o presidente do Benfica responde a Varandas, que o acusa de
uma comunicação tóxica e de estar a tentar desviar atenções?
"O
presidente do Benfica não tem de responder ao presidente do
Sporting, tem de olhar para o futebol português e perceber o que se
está a passar. É isso que se está a manifestar. Tivemos de voltar
a bater na mesma tecla. Não é a nossa forma de estar, e muitas
vezes até sou condenado por falar menos da arbitragem do que os
benfiquistas gostariam que falasse. As coisas estão bem visíveis.
Na final da Taça, também disseram e cheguei a ouvir que não viram
pisadela nenhum que tivesse levado a uma expulsão, quando toda a
gente viu. E nós continuamos a ver o que está a passar. Não é o
que quero para o futebol português. Muitas vezes até sou contestado
por isso. Quero um futebol português mais saudável, não quero é
que pisem o Benfica. E neste momento sinto isso. E é esse alarme que
estamos a causar no futebol português. Há coisas evidentes, têm
havido jogos com muitas evidências sempre para o mesmo lado. O
Benfica não pode estar de olhos tapados. O jogo da Taça de Portugal
é importante, demasiado marcante para não haver medidas que
melhorem o futebol português. O Benfica quer que se melhore o
futebol português, que o jogo seja jogado entre os 22 jogadores mais
os que vão entrando em campo. Que sejam esses a decidir os jogos,
mais ninguém".
Benfica
acha que o Sporting tem sido beneficiado de propósito?
"Não
estou a acusar A, B, C ou D de beneficiar, estou a relatar
evidências. E é sobre essas evidências que quero que o Conselho de
Arbitragem observe, que a Liga observe e que a Federação e as
entidades reguladoras percebam o que se está a passar. Também não
quero os benefícios para o Benfica, quero que os jogos sejam
disputados dentro do campo. Só assim é que podemos crescer no nosso
futebol. E o que temos assistido não é isso. E portanto, enquanto
assistimos a situações dessas, vamos manifestar-nos".
«Áudio
pós-final da Taça? Estava a lamentar-me relativamente ao que se
tinha passado. Foi demasiado grave»
Em
relação ao seu áudio que se tornou público. O que é que o
Sporting domina exatamente?
"Sobre
esse áudio, muito haveria para dizer. O sítio onde estava, e foi
visível quando passaram esses áudios, que as frases não eram
completas. Muito do que escreveram até estava errado. Não se
conseguiu apanhar as palavras [todas] e até se tentavam seguir
outras. Isso foi a seguir ao jogo da final da Taça e estava a
lamentar-me relativamente ao que se tinha passado. Foi demasiado
grave. Depois daquele jogo, ficou muito claro o que se estava a
passar".
E
o que se estava a passar?
"Não
são casos discutíveis, que possamos estar aqui num programa
televisivo ou num debate entre amigos 'para mim foi penálti, para
mim foi expulsão'. Foram casos claros e evidentes. O Benfica
manifestou-se logo e, naquela noite, a minha revolta estava aí".
«Este
jogo da Taça de Portugal é como se tivessem entrado no Museu Cosme
Damião e me tivessem tirado de lá o troféu»
Sporting
venceu a Taça de Portugal porque domina as instituições do
futebol?
"Eu
vinha da final da Taça, de um penálti contra o Arouca em casa, que
foi considerado um penálti com a cabeça, e vinha de um jogo do
Santa Clara-Sporting com um penálti claríssimo contra o Sporting na
decisão do título. Três ou quatro jornadas antes de acabar o
campeonato. A ideia que queremos passar, ou que estava a ser passada,
não sei se era para beneficiar o Sporting ou para prejudicar o
Benfica. Eu senti-me prejudicado. E é sobre o sentir-me prejudicado
que me manifesto. Estamos aqui a discutir quantos títulos o Benfica
ganhou neste mandato. Este jogo da Taça, o sentimento que tenho, é
como se tivessem entrado no Museu Cosme Damião e me tivessem tirado
de lá a Taça de Portugal. E o benfiquista sente-se assim. O próprio
jogo foi assim. Não estou a acusar ninguém, estou a acusar o
organismo do futebol nacional".
«Sporting
está a ser beneficiado neste momento? Acho que sim. Se é porque
domina as instituições? Não sei...»
Mas
o organismo tem pessoas... O que Rui Costa diz é que o Sporting
domina tudo...
"Naquele
dia disse. Se Rui Costa acha que o Sporting está a ser beneficiado
neste momento? Acho que sim. Se é porque domina as instituições?
Não sei se domina ou não domina. Tendo a confiar nas pessoas e
espero não me enganar nisso. Mas que alguma coisa temos de fazer
para mudar o futebol português... O Benfica não procura ser
beneficiado, procura não ser prejudicado. Não vou responder ao
presidente do Sporting, vou estar a falar do Benfica e do sentimento
interno. Do meu e de todos os adeptos do Benfica. O Benfica está a
sentir-se prejudicado. No final do campeonato passado, a final da
Taça não volto a falar sobre ela, e neste momento... Estamos a
discutir o jogo do Estoril? Vamos discutir se é penálti, se não é,
se era fora-de-jogo, se não é? Quem disser que não é fora-de-jogo
o golo do Sporting, tem de me explicar como é que diz que o golo do
Benfica para a Taça um ano antes me tira da final. É exatamente
igual. E esse já foi fora-de-jogo. É sobre isso que quero
explicações, qual é o critério para que umas coisas sejam e
outras não sendo elas idênticas".
Só
que os adeptos depois ouvem-no de forma informal a dizer que o
Sporting domina tudo. De maneira mais formal, não o diz...
"Estou
a explicar em que sentido vem esta frase".
Não
é no mesmo sentido em que Luís Filipe Vieira diz que há um lençol
verde nos órgãos da Federação?
"Volto
a dizer que tendo a confiar nas pessoas e que não estou a acusar A,
B, C ou D. Agora, o que estou a acusar é que o Benfica se sente
prejudicado desde o final da época passada. E com casos muito
evidentes, claros. É esse o sentimento do Benfica e é isso que o
Benfica quer resolver, chamar a atenção para as dualidades de
critérios, para as coisas evidentes que passam em claro. O Benfica e
o presidente do Benfica apelam a isso. Só queremos que o futebol
seja jogado e que, no final do jogo, estejamos a discutir se a equipa
A ou B jogou bem. E não sobre os casos... Devemos querer todos isto.
E não é a minha forma de estar no futebol, até pelo meu passado
dentro do campo, não quero estar sempre a repetir as mesmas
situações e a falar no extra-futebol jogado. Não sou a favor de
estarmos sempre a falar dessas matérias. Mas há momentos em que
temos de alertar. O meu sentimento e o sentimento dos benfiquistas
neste momento é que o Benfica tem sido prejudicado em demasia".
Mas
por quem?
"Pode
ser pelo árbitro, pode ser pela instituição... Estou a falar dos
jogos em si. Está lá no comunicado. O meu sentimento está lá, o
dos benfiquistas também. O jogo do Estoril evidencia, mais uma vez,
que o Sporting naquele caso foi beneficiado. E, portanto, quando
saímos do que saímos e continuamos a assistir ao que continuamos a
assistir, é tão simples quanto isto. Não é uma perseguição a
ninguém, mas sim uma perseguição ao que é o futebol português.
Quem tem de responder a isto? Obviamente que é o Conselho de
Arbitragem que tem de tomar conta daquilo que é o futebol português
em termos de arbitragens".
«O
árbitro da final da Taça disse que tinham feito o luto desse jogo.
Agora vai ter de fazer o luto do Estoril-Sporting também...»
E
como é que isto pode ser explicado?
"Quem
tem de responder ao que estamos a falar é quem manda nos árbitros,
o Conselho de Arbitragem, que tem de se assumir perante isto. O
árbitro da final da Taça disse que tinham feito o luto do final da
Taça, agora vai ter de fazer o luto do Estoril também... Porque foi
o mesmo árbitro".
Mas
é o árbitro que está a prejudicar? O comunicado diz que não há
coincidências mas sim erros humanos...
"O
Benfica sente-se prejudicado, manifesta essa preocupação.
Evidentemente é o Conselho de Arbitragem que tem de atuar. A escolha
dos árbitros, as diretrizes que dá aos árbitros, a dualidade de
critérios, as explicações que se dão... Quando falamos de
arbitragem, claro que estamos a falar do Conselho de Arbitragem, que
é novo e tem de atuar. Esperamos que eles percebam o que não está
bem e
«Proença
ao meu lado na bancada? Isso faz parte dos protocolos. A minha
decisão é com a FPF, não com a pessoa A, B ou C»
Tudo
isto, mas depois vemos Pedro Proença a seu lado... Como explica isto
aos benfiquistas?
"Isso
faz parte dos protocolos. A minha decisão é com a FPF, não com a
pessoa A, B ou C. É evidente que Pedro Proença é o presidente da
FPF, o órgão máximo, mas isso faz parte dos protocolos. Nem tem a
ver com relações pessoais. O Benfica vai até ao fim para defender
os seus interesses. Outra coisa são protocolos".
Mas
se quisesse tomar uma posição, tinha forma de o fazer...
"Nós,
no Benfica, não temos por tendência ser mal educados ou
indelicados. Enquanto for presidente do Benfica, não sou isso. Mas
defender o Benfica até à morte? Isso vou fazê-lo sempre".
Mas
percebe que os adeptos peçam mais distanciamento?
"Percebo
tudo isso, mas se formos por aí, no passado o Pedro Proença era
presidente da Liga. Se me virasse contra a FPF, não era contra Pedro
Proença, era contra o presidente que estaria anterior até. A
questão não está aí. O Benfica tem, por norma, até pela
responsabilidade que é ser do Benfica, querer estar no
desenvolvimento do desporto nacional e na sociedade. E seremos sempre
responsáveis nesse aspeto. Não seremos indelicados nem mal
educados. Agora, não aceitamos que nos pisem. E uma coisa não tem a
ver com a outra".
Então
não responsabiliza Pedro Proença?
"Responsabilizo
também. Sendo presidente da FPF, um organismo que faz parte da FPF,
evidentemente que responsabilizo toda a gente. E não escondo isso.
Mas o que o Benfica faz é um apelo para que as coisas decorram
dentro de campo para o crescimento do futebol português, para que
todos possam disputar o campeonato com as mesmas regras. O que o
Benfica não aceita é ser pisado numa situação destas. E vai até
ao fim para se defender".
Sobre
as acusações de Vieira: «Por que razão me teve lá 13 anos? Ele
que responda...»
Vieira
disse que Rui Costa recebia mais de 200 mil euros por ano para não
fazer nada...
"Era...
Mas por que razão me teve lá 13 anos? Ele que responda. Só duas
notas: já o disse anteriormente que não vou, de maneira nenhuma,
entrar em duelos individuais. Sou presidente, não sou só candidato,
e tenho essa responsabilidade. Não é isso que os benfiquistas
querem. Venho aqui falar do futuro do Benfica, para justificar o que
foi o passado, para falar do que serão os próximos quatro anos. E
não para entrar em disputas individuais. Tenho alguma mágoa em
ouvir algumas coisas. Podia responder de muita forma? Também, podia
sim. Mas não vou entrar em disputas e duelos individuais".
Está
magoado com Luís Filipe Vieira?
"Nem
sequer vou por aí, por esse caminho. Tenho alguma mágoa nalgumas
coisas que oiço, mas não fica bem a um presidente do Benfica entrar
numa situação destas. Há que lembrar que sou presidente do
Benfica. E por outro lado, não faz parte da minha personalidade
estar a entrar em duelos individuais, em situações de lavar roupa
suja. Não é isso que os benfiquistas querem ouvir neste momento".
Na
forma como assuma a presidência quando Luís Filipe Vieira é
suspenso...
"E
o Benfica ficava sem presidente naquele dia? Só esclarecer o
discurso daquele dia porque não quero entrar em disputas
individuais. O discurso daquele dia, naquele momento, era para
mostrar que o Benfica tinha um novo presidente dali para a frente,
face a tudo o que se estava a passar. No dia em que me apresento
enquanto presidente, ainda interino, o Benfica está a segundos ou
minutos de falhar um empréstimo obrigacionista. A minutos de não se
inscrever na UEFA por tudo o que se estava a passar. E aquele
discurso implica um novo presidente para o Benfica. Não é uma falta
de respeito para com Vieira, uma ingratidão, nem uma situação de
não me lembrar que o anterior presidente se chamava Luís Filipe
Vieira. Mas sim, dar a entender e a mostrar a todo o futebol
português, aos benfiquistas sobretudo e às entidades que eram
implicadas ali, que o Benfica estava com um presidente novo. Em
nenhuma circunstância houve ingratidão. Aquele discurso não era
para isso, era só para mostrar que o Benfica naquele momento estava
com um novo presidente".
Nunca
ficou claro que relação Luís Filipe Vieira e Rui Costa tinham. Era
o braço-direito dele?
"Nunca
foi essa a imagem passada, porque até ele disse quem eram os
braços-direitos. A primeira função do Rui Costa era servir o
Benfica, como sempre o fez. A segunda função era desempenhar as
funções que lhe foram atribuídas. Se os dois primeiros anos fiz de
diretor-desportivo e diretor da formação, e foi onde comecei a
trabalhar com Bruno Lage, a partir desse ano passo a ter uma função
de acompanhamento à equipa e aos treinadores no seu dia-a-dia e no
terreno".
Mas
a fazer o quê especificamente?
"Administrador
para o futebol, estando perto dos jogadores, da equipa, dos
diretores-gerais. Primeiro o Lourenço Coelho, depois o Tiago... Era
a minha função acompanhar a equipa no dia-a-dia. Não vou estar a
dizer o que transmitia sobre o treinador A, B, C ou D ou sobre o
jogador A, B, C ou D, e qual era a minha opinião. Participava nas
reuniões de construção de plantel, mas não era o decisor. Era
administrador para o futebol. Nessas reuniões? Pode chamar-se de
consultor, opinava sobre o que entendia que estava bem e mal e
alertava para a situação para depois serem tomadas decisões. Outra
coisa que fazia também, obviamente, era dar uma opinião sobre
transferências dos jogadores, mas nunca fui um decisor nessa parte.
A minha parte era muito desportiva, muito dentro do trabalho da
equipa e até do aconselhamento de treinadores e jogadores. O não
fazer nada é um bocadinho até ofensivo, mas vale o que vale.
Cumpria as funções que me eram destinadas. Até lhe posso dizer que
quando o Tiago [Pinto] sai para a Roma a meio da época e o Benfica
não contrata um diretor-geral até final da temporada, sou eu que
assumo esse papel até Vieira escolher um outro diretor-geral. Tudo
aquilo que era funções que pudesse desempenhar e que me fossem
atribuídas, elas foram cumpridas".
Ao
longo desses 13 anos, as deciões políticas e estratégias não
passaram por si?
"Não
era o meu cargo".
E
nunca soube de algo que lhe tivesse causado desconfiança? Já disse
que, desde que é presidente, a credibilidade foi resolvida...
"E
é um facto. Vamos lá ver uma coisa: não sou eu que digo isso. Isso
é um facto. O Benfica estava mergulhado na lama. Tínhamos o
Ministério Público e a Polícia Judiciária todos os dias dentro da
casa. E nestes quatro anos não tivemos esse problema".
E
não se questionou durante esses tempos?
"É
evidente que houve a preocupação do Rui Costa e de toda a gente que
ali estava. E a resposta foi sempre a mesma: 'Não se passa nada,
isto é tudo coisas que são resolvidas'. O Benfica não está
condenado a nada até ao dia de hoje, isso é um facto. Digo
credibilidade porque todos os dias tínhamos problemas judiciais.
Isto é uma verdade. E não é por acaso, e quando fala desses
processos todos, não é por acaso que o meu nome nunca foi perdido
nem achado. Estas perguntas que estão a nascer agora, já me fizeram
há quatro anos. E está tudo respondido. E o Minstério Público
também respondeu por mim. Não estou em nenhum processo. Há uma
coisa importante dizer: o Benfica não foi julgado em nada. Mas teve
de controlar estes problemas todos. E a nenhum benfiquista orgulhava
saber que o MP estava todos os dias dentro daquela casa. As respostas
que eu tenho para dar a isso é que até agora não se passou nada.
Foram as respostas que demos. A verdade é que, até hoje, o Benfica
não foi julgado a nada".
«Processos
judiciais? O meu nome foi ilibado de todos»
Mas
pode prometer que o seu nome não estará ligado a nenhum processo
que esteja a ser investigado ou que venha a existir?
"O
meu nome foi ilibado de todos eles... Se posso prometer? Dessa altura
do que se passou ali? Posso. Como é óbvio. Estou completamente à
vontade nesse aspeto".
Nunca
foi confrontado com uma situação que lhe tenha deixado dúvidas?
"Não,
por uma razão simples. Eu não tinha como função falar com
empresários, nem fazer transferências. Não fiz transferência
nenhuma no Benfica nesses anos, nunca participei. E não
participando, não sei quais os trâmites à volta disso. Quando se
fala de eu assinar os contratos, os contratos não representam nada
de ilegal. Se houvesse algo, que até ao dia de hoje nada foi
provado, e espero pelo bem do Benfica que não seja, quando se assina
o contrato de um jogador não se escreve que eu vou enganar o
Benfica. Está lá o contrato do jogador. É isso que assinamos".
Mas
nunca estranhou a quantidade de jogadores que iam chegando e não
jogavam na equipa principal, por exemplo?
"São
dois modelos desportivos. E o modelo implementado naquela altura era
angariar o máximo de ativos possíveis, escolhendo jogadores que
pudessem estar a despoletar nas equipas até mais pequenas e que
pudessem vir a ser [grandes] jogadores. Eu optei por outro, por
reduzir todos os ativos. Optei por fazer algo mais límpido e mais
económico para o Benfica, concentrando todos os valores económicos
no plantel. Mas isso não implica que não possa haver alguma trama
pelo meio que possa estar a condenar o Benfica, A, B ou C".
O
caos na AG: «Foi alguma coisa coordenada. Levantarem-se todos ao
mesmo tempo tem de ser algo coordenado, não nasceu ao acaso»
Vários
candidatos disseram que o que aconteceu na AG foi obra de Noronha
Lopes e Manteigas. Partilha dessa opinião?
"Partilho
que foi alguma coisa coordenada. Levantarem-se todos ao mesmo tempo
tem de ser algo coordenado, não nasceu ao acaso. O que partilho,
acima de tudo, é que quem fica manchada é a imagem do Benfica. E
isso não pode acontecer. Somos um clube democrático. Não pode
ficar manchada a imagem do Benfica só porque estamos no momento
eleitoral. Isso não pode atropelar a imagem do Benfica e a
democracia do Benfica".
Mas
acha que estas duas candidaturas estiveram por trás destas
manifestações?
"Quem
participou nessa manifestação, ou nesse ato, são pessoas ligadas a
duas candidaturas. É fácil dizer-se isso. Mas o que me faz estar
mais preocupado e que me preocupou muito na AG, mais do que quem
tenha sido ou deixado de ser, foi a imagem que o Benfica deixou
naquele dia. Felizmente, na parte da tarde, foram feitos os apelos
que tinham de ser feitos".
E
por que razão não fez o apelo logo?
"Naquele
momento, a coisa descambou de tal maneira... Foram feitos apelos
nesse momento, que ao não serem correspondidos o melhor que tínhamos
a fazer foi suspender a AG. Poderia ter sido mais problemática do
que aquilo que foi. Era importante travar aquela situação. Às
vezes as horas de descanso servem para as pessoas pensarem, e a AG da
tarde correu bem e acabou bem, sendo uma AG à Benfica".
«Estamos
numa AG do Benfica, não podem ser só uns a ser ouvidos, têm de ser
todos»
Vieira
disse que Manteigas representa um grupo de radicais que praticou
"atos terroristas"...
"Eu
não sei de onde os atos vieram, sei que são lamentáveis. São
pessoas que podem apoiar determinados candidatos, mas têm de ter a
responsabilidade de ouvir o que os outros têm para dizer. E isso é
uma verdade 'La Palice'. Estamos numa AG do Benfica, num clube
democrático como é o Benfica, não podem ser só uns a ser ouvidos,
têm de ser todos. Disso não tenho a melhor dúvida".
Eleições
em dia de jogo: «Não há perigo nenhum com a segurança. É
evidente que se acautelou tudo isso»
Por
que razão as eleições foram marcadas para dia de jogo? Não teme
que possa haver falhas na segurança?
"Não,
de todo. Vamos fazer a maior operação de sempre numa eleição à
presidência de um clube. Acho que nenhum clube tem uma força tal de
fazer aquilo que [o Benfica] está a fazer. Não há perigo nenhum
com a segurança. É evidente que se acautelou tudo isso. Mas o que
queremos é que todos os benfiquistas possam votar. Essa é a nossa
preocupação e deve ser a de todos os candidatos e benfiquistas".
«Não
ligo muito às sondagens. Faço o meu caminho, sei o que tenho para
dar ao Benfica»
As
sondagens colocam-no no 2.º lugar...
"Não
ligo muito às sondagens. É uma coisa que nem sequer acompanho, não
ligo. Faço o meu caminho, sei o que tenho para dar ao Benfica, o
projeto que tenho e é isso que quero implementar, sei o que passei
nestes quatro anos e como assumi o Benfica. E os benfiquistas também
sabem. Que não me escondi no momento em que muita gente se escondeu,
sabem que dei sempre a cara pelo Benfica. E ao fim destes quatro
anos, quando muita coisa foi feita, quero seguir o meu caminho para o
bem do Benfica".
«Se
houver disponibilidade do Bernardo Silva para voltar ao Benfica, qual
é o benfiquista que não gostaria? Cá estarei para lutar por isso
também»
E
sobre Bernardo Silva?
"Não
faço campanhas de anos 80 e 90, de prometer jogadores e treinadores.
O que faço é trabalhar para que o Benfica seja cada vez melhor. E
da mesma forma que tentei trazer nestes anos sempre os melhores
ativos para o nosso clube, tal como fiz, e não correu bem por
lesões, com o Renato [Sanches] e o Gonçalo [Guedes], tal como
tentei fazer com o Nelson [Semedo] e o João Félix este ano... É
evidente que se houver disponibilidade do Bernardo Silva para voltar
ao Benfica, qual é o benfiquista que não gostaria? Cá estarei para
lutar por isso também".
Fim
da entrevista
.