Sei que este ano tem sido muito duro para connosco. Sei que perdurará durante bastante tempo nas nossas almas um sentimento de perda e de vazio. Mas depois de tudo o que nos aconteceu o ano passado e depois das perdas irreparáveis que o Benfiquismo já sofreu este ano, há que pensar em esperança e transmitir a todos a honra que é Ser Benfiquista.
É por isso que nesta hora de pesar e de dor, julgo ser oportuno transmitir a todos essa esperança, essa força, essa energia que estava contida dentro de Mário Coluna e que ele sempre soube dosear na forma certa e no momento certo. O blog obelovoardaaguia homenageia assim um dos maiores vultos da história do Benfica, ele mesmo história pura, e um dos principais responsáveis pelo crescimento do Benfica a patamares desportivos que poucos clubes no mundo alguma vez atingirão.
A memória do povo faz-se de imediatos, mas há pessoas que vivem os momentos numa perspectiva colectiva e que por isso mesmo são os pilares, as Colunas que nos sustentarão nos momentos de glória e inglória.
Mas nada melhor do que passarmos a apresentar de quem falamos e lermos a Mística escrita por quem dela sabe até à mais efémera passagem. Apresento-vos o Senhor Mário Coluna. O Monstro Sagrado ou, se quiserem, a Locomotiva do Alto Mahé:
É por isso que nesta hora de pesar e de dor, julgo ser oportuno transmitir a todos essa esperança, essa força, essa energia que estava contida dentro de Mário Coluna e que ele sempre soube dosear na forma certa e no momento certo. O blog obelovoardaaguia homenageia assim um dos maiores vultos da história do Benfica, ele mesmo história pura, e um dos principais responsáveis pelo crescimento do Benfica a patamares desportivos que poucos clubes no mundo alguma vez atingirão.
A memória do povo faz-se de imediatos, mas há pessoas que vivem os momentos numa perspectiva colectiva e que por isso mesmo são os pilares, as Colunas que nos sustentarão nos momentos de glória e inglória.
Mas nada melhor do que passarmos a apresentar de quem falamos e lermos a Mística escrita por quem dela sabe até à mais efémera passagem. Apresento-vos o Senhor Mário Coluna. O Monstro Sagrado ou, se quiserem, a Locomotiva do Alto Mahé:
Olá amigos, o meu nome é Mário. Mário Esteves Coluna. Nasci em Moçambique, em Lourenço Marques no meu querido Bairro do Alto Mahé.
Sempre fui Benfiquista de coração bem vermelho. E foi para o Benfica que vim ainda muito jovem, no início da época de 54/55.
Jogava a avançado centro e cedo, bem cedo, quis demonstrar a minha valia mas no meu lugar estava uma lenda viva, um homem que me acompanhou nas vitórias que viríamos a conquistar: José Águas. Cheguei a desesperar. Otto Glória, o nosso treinador, não apostava em mim e quis-me vir embora. Eram outros tempos, estava no Lar do Jogador e não era titular. O desespero, no entanto, não durou muito e Otto Glória, qual visionário, fez de mim centro campista. E resultou perguntam vocês? Claro. Fomos campeões e ganhámos a Taça de Portugal logo nesse ano e eu marquei por 16 vezes e fiz 26 jogos na minha primeira época de águia ao peito. Feliz de mim que ainda miúdo abria assim caminho para uma carreira onde seria pedra de toque de um Benfica que muitas glórias haveria de conquistar...
Joguei 525 vezes com este símbolo ao peito. Fui um dos que tiveram a honrar enorme de estrear o nosso querido Estádio da Luz. Fui campeão 10 vezes ao serviço do meu amado Benfica. Ganhei 6 vezes a Taça de Portugal e por 3 vezes a Taça de Honra de Lisboa. Fui Campeão Europeu. Duas vezes!! Marquei 150 golos em toda a minha carreira e fui, com muita honra, internacional por Portugal em 35 encontros.
Mas há algo que me marca e me marcou sempre ao longo de toda a minha vida. A oportunidade que tive de ser capitão do nosso Sport Lisboa e Benfica. Usei esta braçadeira com toda a determinação em 328 encontros e foi com ela que aprendi a respeitar e a ser respeitado.
Também tive a honra de capitanear a nossa Selecção. De ser o líder em campo dos "Magriços".
Nunca mais irei esquecer aquele jogo com a Coreia, aliás, nunca irei esquecer todo o Mundial... Mas aquele jogo... Até cadernetas de cromos nos fizeram. Ah ah ah!
Foi pena não termos ido mais além. Ambição. Sempre tive ambição e coragem de a por no campo. Disputei todos os lances de todos os jogos como se fossem os últimos da minha vida. Sempre com determinação e garra.
Com força, agilidade e ímpeto.
Saltei mais alto.
Rematei mais forte.
Enverguei a minha camisola com orgulho e lutei sempre por ela. A nossa camisola. O Manto Sagrado. Honrei-o e suei-o sempre até à última gota. Nos jogos...
ou nos treinos...
E assim... Venci! Ó Deus meu se venci...
Fui muitas vezes vencedor. Ninguém em Portugal tem mais títulos do que eu. Venci campeonatos, taças, troféus...
E tive a suprema felicidade de ser vencedor de 2 Taças de Campeão Europeu de Clubes, um feito que até hoje continua ímpar no seio do nosso Clube. Foram tempos áureos e também tempos que marcaram todos os que acompanhei naquele tempo para sempre. Por isso fomos unidos e somos ainda hoje unidos.
Fiz parte de tudo com tanto crer que por vezes se confundiam nas minhas origens.
Mas eu nunca me esqueci de quem era, de quem sou. E também nunca escondi a dedicação que sempre tive por Portugal...
Mas o meu coração sempre foi vermelho. No meu interior sempre tive Benfica. E foi pelo Benfica que sofri sempre...
Aliás foi o Benfica que me fez viver. Com o Benfica tive a oportunidade de viajar, conhecer outras pessoas, conviver com outra gente, pessoas que de uma forma ou de outra se destacaram nas suas funções.
Acho que posso dizer que fui feliz, pois a minha carreira permitiu-me ser muitas coisas. No Benfica e na Selecção. Fui pai...
Fui líder...
E fui exemplo para muitos dos envergaram esta braçadeira e tiveram a suprema honra de capitanear o Glorioso depois de mim...
Foi uma carreira longa. Ainda me homenagearam mesmo quase no fim. Corria o ano de 1970.
Depois disto as coisas mudaram. Como tantos outros, também eu fiz as malas. Embarquei rumo a França para tentar a sorte no Olympique de Lyon, aventura de pouca duração pois em Julho de 71 decidi regressar a Portugal para fazer uma "perninha" no Estrela de Portalegre.
E depois não resisti ao apelo da minha terra mãe e voltei a Moçambique onde ainda tive tempo para ser deputado pela Frelimo e finalmente Presidente da Federação de Futebol Moçambicana.
Ah... Já me esquecia... Neste entretanto, o tempo não se esqueceu de mim e envelheci...
Mas envelheci bem. Participei na abertura do desporto Moçambicano ao mundo e acompanhei quase ao minuto o dia a dia do nosso grande amor. O nosso grande Benfica. Maputo não fica assim tão longe do Estádio da Luz e um amor tão grande não morre com a distância...
Mas o tempo... O tempo é inexorável e tudo nos dá como tudo nos tira, mas comigo... Comigo levou uma finta daquelas! Não teve hipóteses! Ainda fui a tempo de pegar mais uma vez nas minhas "meninas"...
De jantar com amigos e beber um bom vinho...
Receber honrarias e homenagens do meu clube...
Voltar a sentir a emoção de estar entre os meus...
Visitar o nosso lugar na história e reviver tantas e tantas memórias de amigos e da vida que levei de águia ao peito... Que lindo que é o nosso Museu...!
Mas mais importante que tudo isto, tive a oportunidade de demonstrar mais uma vez, para que toda a gente saiba, para que os mais novos nunca se esqueçam, para que a memória NUNCA se desvaneça, que para mim, e para todos vocês também, o Benfica tem de ser respeitado. Sempre pelo Benfica. O Benfica está acima de qualquer Cosme, Coluna, Eusébio, José Águas e tantos outros que mais não fizeram do que ajudar a construir a nossa Gloriosa História. Somos meros actores e todos estamos de passagem. Tudo o que fizemos é para os que vêm. Os que ainda estão no berço e não percebem que vão fazer parte da história do maior clube do mundo. Preparar-lhe o seu futuro. Legar a nossa Mística. Transmitir o Benfica de geração em geração. Sempre e para sempre.
Foi uma vida preenchida e dedicada a este grande amor que ainda carrego no peito como se tivesse 20 ou 30 anos. Uma paixão que nem eu, por mais que tente, consigo explicar. Foi pena apenas não ter podido transmitir a mais gente em Portugal toda esta paixão e esta crença no ideal do Benfica. Mas enfim, evangelizei o que pude em terras de Moçambique. E olhem que não foi assim tão pouco...
Ah! E não pensem que por me ir embora assim me esqueço de vocês... Sempre que saírem fora da linha, a minha voz baixa e firme vai lá estar na vossa memória, no vosso ouvido, para vos encaminhar no sentido certo.
Para vos apontar qual é o caminho das vitórias e das conquistas...
Mas estou cansado. A caminhada foi longa e está na hora de finalmente descansar. Quero apenas que saibam que nunca vou esquecer o Benfica. Impossível. E espero que também nunca se esqueçam de mim. Deixo-vos um abraço. Um abraço à Coluna. Enooorme!
E lembrem-se. Honrem hoje os Ases que nos honraram no passado. Empenhem-se. Participem. Sintam o clube. Deixem-se arrebatar pelas emoções do jogo. Sejam felizes. Vivam o Benfica pois o Benfica somos nós.
Até sempre amigos. Palavra de Coluna.
Nota do autor: Espero que me seja perdoada a leviandade de encarnar Mário Coluna nesta sua mensagem imaginária. Confesso que não encontrei melhor forma de o homenagear do que "tentar calçar os seus sapatos". Uma coisa é certa, quer estas palavras tenham roçado a verdade ou tenham desbandado para a perfeita incoerência, o Senhor Coluna, foi, é e sempre será "O" Capitão do meu Sport Lisboa e Benfica.
Que descanse em paz.
VIVA O BENFICA PORRA!!!!