JESUS NA LUZ (PARTE II)

(ARTIGO DE JOSÉ MANUEL DELGADO) ... CRÓNICAS DE UM MUNDO NOVO 

Jorge Jesus é o décimo treinador na história do Benfica a ter um segundo consulado à frente da equipa principal dos encarnados. Ribeiro dos Reis, Lipo Hertzka, José Valdivieso, Bèllá Guttmann, Fernando Riera, Otto Glória, Mário Wilson, Sven-Goran Eriksson e Toni antecederam JJ nesta aventura que é regressar a uma casa onde já se foi feliz. É esse, aliás, o fio condutor destas ‘reprises’, a vontade de explorar melhor as boas sensações deixadas num período anterior. 

Há que dizer, desde já, que, regra geral, as segundas experiências não são tão bem conseguidas quanto as primeiras. Foi assim com dois dos treinadores mais marcantes da história do Benfica, Otto Glória e Bèllá Guttmann, e mesmo Eriksson (que saiu a mal com Fernando Martins e só regressou porque, entretanto, o Benfica mudou de presidente) teve um impacto maior em 1982/84 (dois campeonatos, uma Taça de Portugal, uma Taça Ibérica, e uma final da Taça UEFA) do que em 1989/92 (um campeonato, uma Supertaça e uma final da Champions). 

Como será com Jorge Jesus? 

A conjuntura parece indicar que a diminuta margem de insucesso permitida ao presidente, a escassos meses de eleições, redundará um investimento refundador de um plantel com elementos de valor, mas mal calibrado e construído sobre premissas erróneas. 

Foi, aliás, uma abordagem inconsistente com a realidade que levou a que o Benfica não aproveitasse, como podia e devia, nos últimos anos, uma flagrante superioridade de meios sobre o principal rival, o FC Porto. Se a SAD do Benfica aprendeu com os erros e se estiver disposta a dar ao treinador meios que possam gerar uma equipa capaz de se afirmar na Europa (o que tem como patamar mínimo ultrapassar a fase de grupos da Champions…), a próxima década (2020/21 a 2029/30) pode trazer aos encarnados a hegemonia no futebol português que falharam na década que agora acabou (2010/11 a 2019/20).   

E onde é que mais falhou o Benfica ao longo dos últimos anos? 

Não foi, certamente, no investimento no Seixal, os clubes portugueses devem manter a vocação formadora e aproveitar os melhores elementos para enriquecerem os plantéis. Porém, querer ser campeão e fazer boa figura na Europa, forçando para além do razoável aquilo que a formação tem para dar, só pode dar mau resultado. E o Benfica, ao obrigar alguns jogadores a queimar etapas, não os ajudou e não se ajudou. Casos como os de Miles Svilar, Gedson ou Florentino, são exemplos de jovens talentosos que foram obrigados a dar passos atrás para poderem retomar o caminho do futuro. Num clube como o Benfica – e o mesmo princípio é válido para outros emblemas com apostas firmes na formação – os jovens (exceto se são Chalana, Félix, Futre, Cristiano Ronaldo, Figo ou Baía…), antes de ajudarem, têm de ser ajudados, ou seja, devem ser enquadrados num coletivo forte e coeso, que os faça crescer e evoluir. Foi isso que o Benfica foi perdendo nos últimos anos e deverá ser isso que deve recuperar agora. 

Nada do que estou a dizer é novo, as grandes equipas sempre foram feitas da conjugação da experiência com a juventude… 

O que deverá ser novo no Benfica, de agora em diante, e Jorge Jesus, nesse particular, pode dar uma boa ajuda, é o critério das contratações, que devem ser realmente cirúrgicas e não feitas a atirar a tudo o que mexe. Nas próximas semanas, à medida que o plantel encarnado for sendo recomposto, perceber-se-á a profundidade da mudança trazida por Jorge Jesus. 

PS - Agora que está oficializado o regresso de JJ à Luz por três anos (e quem diria, em outubro de 2015, que tal seria possível…), a primeira batalha do novo treinador passará por reconquistar aqueles adeptos que continuam sem perdoar-lhe algumas coisas que foram ditas há cinco anos. E só poderá fazê-lo com resultados positivos e futebol atraente. Deverá também ultrapassar os dois obstáculos que separam o Benfica da fase de Grupos da Liga dos Campeões. 

É redutor colocar as coisas sob este prisma, com a aceitação indexada aos resultados? 

Sem dúvida. Mas o futebol é assim mesmo, generoso e ingrato, feito sobretudo de emoções à flor da pele.

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Fonte: José Manuel Delgado

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Qual a opinião dos ilustres benfiquistas sobre a matéria de facto?

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