terça-feira, 21 de maio de 2019

De todos, um... Bruno Lage!



Horas depois da conquista do 37, e apesar de ainda não termos estabilizado os níveis de adrenalina, podem-se começar a fazer os balanços desta época que nos levou do inferno ao céu.

Sem querer repisar a análise aqui feita à forma como perdemos o título na época passada (que seria o penta...), importa reflectirmos sobre esta época e, agora que já só olhamos para a próxima, analisarmos o que fizemos bem e o que fizemos mal, para que, em 2020, o 38 não seja tão sofrido.

E, sendo uma época que começámos mal, a tal não é indiferente o facto de termos começado a mesma com um treinador que nos anos anteriores já havia demonstrado claramente as suas limitações. O que aconteceu na primeira fase da época era assim, tão só e infelizmente, previsível para quem segue o fenómeno futebolístico com alguma atenção. 

Assim, são de destacar como pontos negativos:

1 - Manutenção de Rui Vitória 

Um treinador desgastado, incapaz de dar a volta aos acontecimentos e que foi sendo cada vez mais, mais parte do problema do que da solução, e cuja maior crítica que lhe faço foi não ter percebido, em nome do Benfica, que não tinha condições para mais, pelo que devia ter saído no final da época passada. 

2 - Política de Contratações 

Quem olhe para o vaivém de jogadores do Benfica esta época dificilmente encontra lógica ou projecto na política de contratações.

Como se explica a contratação, logo seguida da dispensa (contra a vontade do treinador de então), do melhor jogador da segunda liga da época passada - Chiquinho? Que, entretanto, demonstrou ser um dos melhores médios do campeonato e por isso lá vamos pagar mais uns milhões para o resgatar...

Como se explicam as contratações sonantes de Ferreyra, Castillo e Lema para serem dispensados em Janeiro? Lema que apenas fez um jogo, logo contra o Porto em casa em que foi um dos melhores em campo...

Como se explicam as contratações de Alfa Semedo (também despachado em Janeiro), de Conti e de Corchia? Jogadores que sempre pareceu nunca contarem para o anterior treinador...

Afinal a política de contratações é definida pela estrutura sem ouvir o treinador? Como é possível???

3 - Gestão do plantel e da equipa

Não falei atrás da contratação de Gabriel por uma razão muito simples. De um jogador que parecia um flop nas mãos de Rui Vitória, capaz de tirar qualquer um do sério, tornou-se um imprescindível quando teve um treinador que soube potenciar as suas capacidades e características.

E que dizer do enorme Samaris? Proscrito, humilhado por Rui Vitória, onde era suplente até contra o Montalegre, nunca deixou de ser um grande profissional e tornou-se peça fundamental na reconquista.
Suplente de Alfa Semedo e até, pasmem-se, de Felipe Augusto, nunca perdeu o brio e foi recompensado (ele... e nós).

Aquilo que era óbvio para todos nós, só não o era para o treinador. Não só as escolhas para o 11, como também as substituições (que chegaram a ser as mesmas aos mesmos minutos em jogos consecutivos), bem como o
sistema táctico, demonstravam bem o nível de acaso e de aleatório a que estávamos sujeitos.

As exibições sofríveis da equipa, sobretudo nos jogos fora, deixavam sempre antever os acidentes (maus resultados) na iminência de acontecer. 

Quem viu o Benfica jogar contra o Montalegre (e vencer por ... 1-0) numa exibição de nos fazer corar de vergonha, não reconhece a metamorfose que aconteceu pouco mais de 2 semanas depois…com a entrada de um treinador… interino…

4 - Saídas de Shéu e de Luisão 

Sem se perceber muito bem porquê, durante a época, saíram do dia-a-dia da equipa/plantel duas figuras marcantes de muitos e muitos anos: Shéu e Luisão.
Se o afastamento do Senhor Shéu, até é compreensível dada a sua necessidade e vontade de descansar, já o fim da carreira de Luisão passados pouco mais de 4 meses da renovação do contrato foi, no mínimo, incompreensível…
A participação destas duas figuras do benfiquismo na festa do 37 diz bem mais do que aparenta…

5 - Campanha suja montada por Pinto da Costa e Bruno de Carvalho

Esta foi mais uma época em que assistimos ao desenrolar da campanha mais nojenta de que há memória em Portugal, fruto da Santa Aliança selada por Pinto da Costa e Bruno de Carvalho e executada pelos seus pombos correio, Francisco “Goebbels” Marques e Nuno “pigmeu” Saraiva. Enquanto o Benfica andou pelas ruas da amargura a arrastar-se em campo, ainda nos deixaram em paz; quando perceberam que o Benfica estava a recuperar lá vieram as notícias e os tweets plantados com o objectivo de criar ruído e condicionar as arbitragens dos nossos jogos, mas também dos jogos deles.

6 - Arbitragem/VAR/Órgãos de Disciplina e de Justiça

Prova de que a campanha suja teve algum efeito, foram os inúmeros erros de arbitragem (e do VAR) em benefício constante dos mesmos (o FC Porto acabando com mais 10 pontos do que deveria ter e o Sporting quase igualando o record de penaltys (que também é seu); penaltys esses assinalados por duas razões: por tudo e por nada!

Paralelamente às arbitragens, a época fica marcada pelas decisões inenarráveis do Conselho de Disciplina: mão pesada para o Benfica por “dá cá aquela palha” e mão muito leve para Porto e Sporting, mesmo quando estavam em causa agressões, ameaças e coacção aos vários agentes desportivos.

A cereja no topo do bolo será mesmo as inúmeras tentativas de interdição da nossa Catedral por actos que, infelizmente, se verificam um pouco por todos os estádios.

7 - Comunicação Social

Parte activa na estragégia conjunta de Porto e Sporting, a comunicação social desempenhou um papel vergonhoso, subserviente, incendiário que a tentativa de vender jornais, revistas e livros com o 37 não pode apagar.

A generalidade da comunicação social, exceptuando, honra seja feita, o jornal “A Bola” funcionou sempre como caixa de ressonância dos interesses portistas e, essa sim, como verdadeira cartilha subjugada a esses interesses.

Apesar de tudo isto, de todas as campanhas da santa aliança, a verdade é que não conseguem identificar nos emails, nos vouchers, nas toupeiras ou onde quer que seja, um jogo ou um ponto que o Benfica tenha ganho devido ao que quer que seja que conste desses processos.

Aqui chegados, dando por finalizados os pontos negativos da época, deixo algumas notas que também marcam a época do Presidente Luís Filipe Vieira:

Notas negativas:

- A “luz” que LFV viu quando decidiu manter Rui Vitória podia ter sido um comboio em sentido contrário. Decisão claramente errada, como errado foi manter RV depois da temporada anterior.

- Entrevista ridícula no programa da manhã de um canal de televisão, ainda por cima na SIC, órgão central do ataque ao Benfica

-  A criação e manutenção da expectativa em redor do nome de José Mourinho para treinador do SLB

- A pérola atirada aos sócios e adeptos de que ainda iríamos ter muitas saudades de Rui Vitória, se não fosse surreal e tivesse uma nesga de verdade significaria que o Benfica estaria hoje num dos momentos mais negros da sua história.



Estas notas negativas constrastam com a aposta (inicialmente de recurso e só posteriormente assumida) em Bruno Lage.

Quanto aos pontos positivos da época:



1 - Bruno Lage

- Homem humilde, treinador que fala de futebol e foge ao discurso redondo e vazio a que fomos sujeitos ao longo dos últimos anos.

- Recuperou jogadores (e activos) proscritos (Gabriel, Samaris e até, o improvável …Taarabt!) apostou nos jovens de forma consequente, não se limitando a pôr uns atrás dos outros e rezando para que algum resultasse (quem não se lembra de Clésio Batuque, Aurélio Buta, entre tantos outros…)

- Teve com ele os jovens, mas teve também os consagrados do plantel unidos até ao fim em torno do 37.

- Conquistou o balneário e conquistou os adeptos, com o seu discurso mas sobretudo com trabalho, com boas exibições, com golos, com a melhor 2ª volta da história, com a recuperação mais épica em 85 campeonatos, com números só vistos há 50 anos atrás…

- Ganhou em Alvalade, Drgão, Braga, Guimarães, Moreira de Cónegos, um percurso imaculado fora de casa e em que poucos ou nenhuns acreditariam.



2 - Bruno Lage

Bruno Lage personifica o Benfica, com a simplicidade de quem faz parecer as coisas fáceis, incorpora como nenhum outro treinador nas últimas décadas, a mística, a raça, o querer (e o crer) e a ambição! 

Bruno Lage é o grande obreiro do 37, fazendo o que nenhum outro (provavelmente nem Mourinho) faria.

Algo que, a 3 de janeiro, provavelmente nenhum benfiquista acreditava (e, claro, menos ainda os adeptos portistas e sportinguistas).

3 - Bruno Lage

- Recuperou animicamente o plantel

- Recuperou jogadores que estavam “mortos” com Rui Vitoria

- Recuperou o sistema de jogo que dá títulos em Portugal

- Lançou jovens de forma estruturada

- Praticou um futebol positivo, atractivo, onde voltou o prazer pelo jogo e pelos golos
- Pela elevação no discurso, pela forma simples como sabe transmitir a sua mensagem

- Porque mesmo que não fôssemos campeões já teria valido a pena por nos ter devolvido os batimentos cardíacos mais acelerados quando joga o glorioso, em contraste com o medo que se estava a apoderar do nosso estado de espírito até quando íamos jogar com o Montalegre.



4 - Adeptos

Para lá do Bruno Lage, herói natural do 37, os adeptos merecem uma palavra. Quando foi preciso, quando pareceu que a equipa estava a abanar, o 12° jogador apareceu e transformou cada estádio, cada bancada, cada rotunda, num verdadeiro inferno da luz.
De forma apaixonada, de forma dedicada, onde prevaleceu sempre (não obstante um ou outro episódio) essa paixão pelo Benfica em detrimento do “ódio” aos adversários e essa é, também, uma marca distintiva das vitórias do Benfica para as vitórias dos outros.

Por fim, estão também de Parabéns as mulheres do Benfica que venceram de forma brilhante a Taça de Portugal em futebol e o Heptacampeonato no Hóquei!




O futuro só pode ser nosso!

Viva o Benfica!



*Nota: correspondendo ao repto do nosso treinador esforcei-me por tratar os rivais pelo nome

11 comentários:

  1. ASSINADO !!!

    Fernando;
    Apareces pouco mas quando dás gás à caneta arrancas com belas e verdadeiras prosas.

    Nota:
    - Samaris até do Danilo foi suplente.
    - O Lage que era só para duas semanas, deu a volta por cima para nosso deleite. E foi tão simples. Estavam todos lá...mas havia pouca luz.

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  2. Soberba publicação! Tudo dito!!! Parabéns e muito obrigada por me/nos deliciar com esta bela "reflexão" pós campeonato! ;)

    Hoje, passo a palavra aos meus leitores ...
    .
    Momentos...
    Beijo e um excelente dia!

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  3. O BRUNO LAGE é o culpado que eu tenha festejado a vitória do vosso BENFICA com satisfação. Um homem que dá um bom exemplo de desportivismo e educação.

    A tua publicação é também para minha satisfação, Ricardo. Simplesmente excelente.

    Saudações cordiais de uma portista que detesta rivalidades tanto no futebol, na política, na religião. Se eu fosse crente, diria todos nós somos filhos de Deus:-*

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    1. Minha bela menina azul.
      O Ricardo é um escriva e poeta de eleição, mas este post foi feito pela caneta, também dourada, do Lisboeta Fernando Henrique..que de quando em vez no delicia com prosas de alto calibre repletas de Chama Imensa.
      É pena ser tão...preguiçoso!

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    2. Muitíssimo obrigada pela informação. Só agora é que compreendi, que este blogue tem quatro colaboradores. Gosto de entrar na boca do lobo e fugir logo, daí não ter compreendido que autor é o Fernando Henrique. Prometo para a próxima vez, tomar atenção, não só no conteúdo como também quem o escreveu.

      Saudações cordiais de Düsseldorf:-*

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    3. Querida amiga ematejoca

      o amigo Viriato de Viseu, esse grande e incomparável benfiquista, já elucidou a amiga de quem escreveu este belíssimo post.
      Falou... está falado

      Fique feliz.

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  4. Maravilhoso post. E assim escreve um benfiqusita. Viva o Benfica sempre.

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  5. Este deve ser eleito o post do ano,que categoria que classe,eu sou fan dum outro escriba que se chama Guachos Vermelhos,mas este do Fernando esta sublime,esta ao nivel do Ricardo nos seus tempos aureos,sublinho mesmo que Ricardo,Fernando e Guachos enchem-me as medidas por favor Fernando escreve mais vezes e tu Ricardo porque te retiraste tao cedo ou jovem,aquele abraço voçes sao uns campeoes aquele 37 e especial para todos nos benfiquistas VIVA O BENFICA.

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  6. Grade e ilustre post. Sem dúvida um ex-libris na arte de bem escrever sobre o nosso Benfica. Gostei muito.

    Bruno Lage foi sem qualquer dúvida o grande obreiro deste título. Conseguiu criar uma união entre ele e os jogadores simplesmente fantástica.

    Para a época que vem haverá mais futebol e, acredito, ainda mais Benfica.

    VIVA O BENFICA PORRA.

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  7. Fantástico texto que só hoje consegui ler. Muito bem escrito e uma realidade tudo o que está escrito.
    Viva o Benfica.
    Querida ematejoca
    Nem parece Portista. Tem alma de Benfiquista. Bem haja.

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