Titulei o meu texto de hoje recorrendo a uma adaptação do título de um conhecido filme de Manoel de Oliveira. Um lugar comum talvez. Um título que para mim espelha a solidão do comando e como é difícil agradar a todos, principalmente num clube plural como o Benfica.
Acho que andamos todos a navegar num mar de lugares comuns. Um mar cheio de remoinhos e de onde confesso me custa por vezes sair. O que lê repete-se, o que se ouve repete-se, o que se diz esquece-se.
Entrando na actualidade, confesso que não me interessa se é o Bernardo que é vendido ou outro qualquer. Isso para mim nunca foi importante.
Num mar de clichés que vamos ouvindo todos os dias há um que eu repito muitas vezes: O Benfica deverá sobreviver a tudo e a todos. Presidentes, treinadores, jogadores, árbitros,... Até a adeptos ou sócios.
Apesar disto, verifico que a preocupação com o não aproveitamento de jogadores aos quais sentimentalmente os Benfiquistas se ligam mais depressa (quer seja por serem Portugueses, quer seja por serem Benfiquistas) mesmo que a queiramos ignorar está sempre presente.
Admita-se que estas vendas não são situações normais e admita-se também que são desfasadas do que por vezes nos é dito "olhos nos olhos". Admita-se que é difícil compreender a questão das clausulas. ou os compromissos que se tem de assumir com empresários para facilitar utras vendas de outros jogadores. Admita-se que não se clarificou o suficiente um tema de natureza intrinsecamente sensível. Assuma-se por isso que nunca se deveria ter dado a entender uma coisa para depois por meias palavras deixar no ar a ideia que afinal a verdade não era completa, ou que não se disse tudo o que se queria dizer.
Há muito tempo que me venho a queixar da forma como o meu clube comunica comigo enquanto sócio ou parceiro de aventura.
Ser Benfiquista é uma aventura privilegiada por uma torrente de emoções que muitas vezes nos impedem de pensar racionalmente. Mas, pensadas ou não, estas lacunas de comunicação tem na minha opinião principalmente a ver com personalidade. Ou talvez com o facto de muitos terem atacado onde não deviam atacar, quando não deveriam atacar e da forma que não deviam atacar quem nos dirige.
Assumo que seja normal que uma SAD se feche aos sócios do clube a que maioritariamente pertence, isto numa perspectiva de "o segredo ser a alma do negócio". E não considero plausível que, ao contrário do que muitos advogam, diariamente se emitam comunicados atrás de comunicados sob pena de os mesmos perderem a importância ou pior passarem a ser ignorados.
O que já não considero plausível ou se quiserem normal, é que quando se comunica não se seja propositadamente claro. Ou se actue para demonstrar que hoje em dia o Benfica já não precisa dos sócios, desprezando-os na sua capacidade de lidar com a informação de forma adequada. Desprezando a forma como se comunica ou até desconsiderando algumas opiniões que a meu ver teriam de ser consideradas por serem pertinentes, independentemente de quem as emite ou até das intenções que possam estar por detrás delas. Isso eu não compreendo.
Por isso eu questiono-me, tento ter sempre o meu espírito crítico activo, procurando colocar-me na posição de outrem para compreender o porquê de se decidir de uma ou outra forma. Para eu tambem perceber par aonde caminhamos.
Reduz-se muitas das vezes as respostas às questões feitas pelos Benfiquistas (na blogoesfera ou noutros locais de opinião) ao que vem escrito nos nossos RC.
Para mim existem perguntas que nenhum RC vai responder completamente. Porque dependem de pessoas e não de números. Dependem de expectativas ou de previsões. Perguntas que vou fazendo para perceber em que posição estou em relação aos assuntos do nosso clube e também para avaliar até onde estou capacitado para os compreender:
- Será mesmo assim tão importante continuar a vender quando comparamos o volume de vendas com a evolução do nosso passivo? Haverá alternativas?
- Porque razão diminuir o passivo é algo assim tão mau? Não há forma de o fazer sustentadamente? Planeando a formação?
- E este plano é realmente exequível com o capital humano e técnico à nossa disposição?
- Há vontade de todos os intervenientes para que isso seja uma realidade a curto ou médio prazo?
- Qual a razão de termos tido necessidade de fazer o que se fez ao plantel se a perspectiva era de crescimento e de estabilidade nos resultados financeiros?
- Houve necessidade de alterar a forma de relacionamento com a banca devido à falência do Grupo Espírito Santo. É certo. Mas porque razão não se diversificou?
- Haverá assim tão poucas instituições bancárias com vontade fazer negócio com o Benfica?
- Houve necessidade de a SAD ganhar liquidez para se libertar de um garrote que se fechou de repente. Porquê?
- Haverá acordos financeiros para além daqueles que são tornados públicos ou comunicados à CMVM?
- Valerá a pena continuar a tentar desmistificar todo e qualquer acto de gestão relacionado com as vendas de jovens promessas? É assim tão importante considerar ou desconsiderar a venda de um jovem activo?
- É ou não é melhor vender um jogador da formação do que outro que vamos buscar a outro lado qualquer?
- O resultado financeiro de vender um jovem oriundo dos escalões de formação compensa a despersonalização do plantel ou a desvalorização das nossas raízes?
- Estas vendas são actos correntes de gestão que se justificam pela necessidade de aproveitar oportunidades do mercado ou são premeditados?
- São forçados por contingências externas à SAD? Agentes? Fair-Play financeiro?
- E porque razão o Benfica ficou exposto a estas contingências e outros não?
- Qual será a razão real para não se dar oportunidades a alguns jogadores? Razões técnicas? Razões humanas? Contratuais?
- Se existem porque razão se assume publicamente que não existem? Não podemos saber? Somos demasiado burros para o perceber?
- Porque é que se continua a falar em rumo, futuro, estabilidade, continuidade, mística, etc, se depois não se age em conformidade? Não se tenta pelo menos manter os melhores jovens por mais tempo?
- É por causa do sistema de jogo? Razões táticas? Questões disciplinares?
- O Benfica não é apelativo o suficiente para que um jovem se lhe dedique de corpo e alma durante pelo menos 3 anos da sua vida antes de zarpar para outras paragens?
Tudo isto que eu me pergunto são questões que tem no seu cerne decisões e cujas respostas em consequência provocam outras decisões, que deviam ser sempre concordantes com o plano que esteja estabelecido.
Decisões que eu ou outro qualquer poderia tomar de forma distinta e com diferentes consequências. Talvez, por exemplo, hoje o plantel do Benfica fosse mais Português. Mas talvez já não tivesse JJ como treinador. Ou nunca se tivesse tido a oportunidade de transformar Enzo Perez num dos melhores médios que eu já vi jogar no nosso clube. Ou ter Di Maria por exemplo.
Sei é que perante as propostas e oportunidades de negócio que nos chegam todos os meses, há que tomar decisões. E convenha-se nem sempre é possível decidir em coerência ou de forma equitativa quando se trata de situações que também envolvem pessoas.
Neste caso específico e quando confrontado com os valores em causa, eu decidiria sempre pela venda do jogador. Mas por ser quem é e por nós nos identificarmos com o Bernardo por Benfiquismo puro, tudo se torna muito mais difícil de aceitar. Até porque ao fazer esta venda, LFV vai contra aquilo que tem vindo a advogar nos últimos tempos.
E não nos podemos esquecer das declarações onde afirmou que o Benfica não está vendedor... Estar ou não estar vendedor não é algo que mude em 3 ou 4 meses, ou até num ano. Algo já estava errado para tudo ter acontecido e tal não nos foi dito. Porque se deu a entender isto tudo de forma pública? Voluntarismo excessivo dizem uns. Falta de tacto dizem outros.
Eu digo que é apenas uma questão de personalidade. E de escolher a altura certa para dizer determinadas coisas. Até porque o Benfiquista felizmente não é de memórias curtas, nem gosta de correr feito asno atrás de cenouras.
Finalizo, recordando mais uma vez a todos que tudo o que se passa hoje no Benfica foi sempre legitimado pelos sócios. Tudo. Por isso se existe culpa de muitas coisas serem como são, ela é também nossa. Da nossa falta de militância. Do nosso desinteresse em alturas chave da vida do clube. Como agora, em que o estádio está meio cheio apesar dos bilhetes nunca terem estado tão baratos. O nosso amor pelo clube afinal se calhar não é tão grande assim, apesar das agruras da vida que todos atravessamos hoje em dia...
Fazendo um pouco de introspecção, se eu pudesse medir em km a minha disponibilidade para assuntos do clube hoje em dia, diria que ela reduziu na proporção dos 7000 km de distância que hoje me separam de Portugal. Não porque não deseje que seja diferente ou porque não me motive para tal. Ou porque o meu amor pelo clube tenha esmorecido.
Sinto-me distante. Apenas isso. Mas isso não é culpa de ninguém. E muito menos de LFV ou da venda do Bernardo Silva...
"Ergo mea culpa est..."
VIVA O BENFICA PORRA!!!!!!!!!
Parabéns, Benfica!