A minha análise e algo mais...

Escrevo hoje porque quis deixar passar algum tempo depois do jogo para raciocinar melhor.

Foi um jogo muito complicado e muito difícil de gerir emocionalmente. Houve partes do jogo onde o Benfica conseguiu sobressair e incomodar a defesa do Barcelona, mas aos poucos e poucos a equipa descontrolou-se, facilitou e perdeu lucidez.

Talvez cansaço, talvez maior valia do nosso adversário. Mas uma coisa é certa, nunca o Benfica se conseguiu libertar da noção de estar a defrontar um, para muitos quase invencível Barcelona. Houve enfim um descontrolo emocional que tolheu a equipa de ideias e de movimentos.

Começamos bem. Mas a equipa depressa perdeu a noção do fio de jogo que apresentou nos primeiros 15min e baixou os braços para a inevitabilidade da derrota ainda antes do final da primeira parte.

Faltou osso aos jogadores do Benfica. Não se pode jogar com esta maciez contra o Barça. E não estou a falar de desancar a dar porrada de 3 em pipa. Falo de presença física junto dos jogadores do Barcelona a qual praticamente não existiu. Salvou-se neste aspecto Matic que se aplicou e fez uma primeira parte de grande qualidade.

E depois… Depois há as reposições de bola em jogo do Artur… Atroz a forma como sistematicamente se optou pelo chutão para o ar na 2.ª parte. Se a posse de bola do Barça já era avassaladora, o facto de o benfica só ter a bola nos pés dos seus jogadores 10 a 15 segundos acabou por marcar toda a segunda parte. Isto mais do que demonstrar que a equipa estava intranquila, o que se justifica pela qualidade do adversário que defrontávamos, demonstra quanto a mim falta de frescura física. Uma equipa cansada não tem o mesmo discernimento. Não decide da mesma maneira.

Quer-me parecer que o Jesus este ano preparou a equipa fisicamente de forma diferente dos dois últimos anos, talvez para tentar não ter aquele abatimento físico que se tem verificado no final das épocas em que é já lugar comum vermos os jogadores quase de rastos até às férias.

A derrota de ontem não deslustrou. Mas o Benfica não foi derrotado apenas por ser inferior ao Barcelona. Foi-o porque também foi inferior a si próprio.

O Benfica podia e devia ter feito muito muito mais.

Para mim é uma questão de mentalidade. De disponibilidade física e mental. E também de paz. A intranquilidade ontem demonstrada pela equipa, por exemplo no final da 1.ª parte em que podíamos ter sofrido o segundo golo mais cedo, é óbvia. Indissociável desta intraquilidade o ambiente alteroso que actualmente vivemos enquanto Benfiquistas? Não sei... Pareceu-me que não. Alguns dos meus colegas de blogoesfera persistem em colar o resultado de ontem ao momento que vivemos internamente.

A mim quer-me parecer que não. Joguei futebol durante muitos anos para saber que estes jogos são especiais. Dão pica. Mas a mentalidade de todos é tão importante...

Jesus demonstrou ontem que definitivamente não é um treinador talhado para grandes jogos (talvez excepto se o adversário for do futebol inglês) e que normalmente se amedronta na hora das decisões (algo que eu já venho a dizer há muito,muito tempo). São persistentes as alterações no alinhamento inicial em todos os jogos. E as mudanças tácticas inesperadas sem a equipa estar rotinada são também uma constante. E não me venham cá falar que utilizam os sistemas nos treinos e que por isso eles estão trabalhados. Não é a mesma coisa.

Eu sou ainda muito novo e tenho muito a aprender sobre o Benfica e sobre futebol. Gostava de aprender mais. Absorvo com avidez as prosas que se vão escrevendo por essa esfera fora. Tanto as pró como contra o actual estado de coisas.

O jogo de ontem exemplifica um pouco  aquilo que todos sentimos. Uma ambição que está castrada. Uma vontade de chegar mais longe de querer que as coisas resultem e sucessivamente falhar nos momentos cruciais. Não que o jogo de ontem seja crucial para o nosso compromisso de atingir a segunda fase da Champions. Longe disso. Mas ficou um sabor amargo. Um sentimento de que algo mais poderia e devia ter sido feito. Talvez suar aqueles 5 litros de suor extra que ontem não fomos capazes de deixar em campo...

Pagámos também com esta derrota as ausências de elementos chave na equipa. Luisão ontem seria tremendamente importante na estabilização emocional da equipa. A sua experiência seria importante.

Sinto por isto tudo que o futuro me incomoda. Angustia.

Confesso que também estou cansado de ouvir, ouvir, ouvir, ouvir e depois nada… Pufff! Um vazio e um deserto de ideias e de atitudes. E o que é facto é que ninguém se chega à frente. Não sei se é receio de perder (ou de ganhar?) o que leva a que não apareça uma alternativa para o Benfica. Mas de uma coisa tenho a certeza. Existe falta de disponibilidade dos Benfiquistas para discutir o Benfica. Falta-nos vontade para nos chegarmos à frente.

Ás vezes tento ler bem o que o José Albuquerque tem escrito acerca das nossas finanças para me tranquilizar. Mas não consigo. Esta angustia, que cresce dia após dia, está lá. Existe. E nada do que é dito hoje em dia quer pelos apoiantes quer pelos oposicionistas a LFV me tranquiliza. Auditorias? Acordos pré-Eleitorais? Nada disso me dá um rumo. Nada disso me diz para onde caminhamos.

Não consigo sentir confiança numa oposição que se esconde por detrás de mera retórica. Não sinto confiança numa direcção que se torna de dia para dia mais autista e alheia ao que se passa à sua volta.

O mar de rosas financeiro em que muitos julgávamos navegar, até pela competência que se dizia existir em quem nos dirige nesse aspecto, esfuma-se de dia para dia. Quanto mais não seja porque o Benfica tem hoje de fazer face a mais um inimigo chamado crise económica. Penso até que faltou premonição a quem analisa os mercados. Instinto. Hoje temos a noção clara que para nos tornarmos sustentáveis e manter algum controlo sobre o equilíbrio activo/passivo temos de vender. Todos os anos. E ir à Champions claro. Sem Champions nenhum clube Português pode ser viável.

Mas e se o mercado soluçar e se virar para outros lados? Que fazer quando os russos loucos deixarem de existir? E se não formos à Champions? Como pretende o Benfica sustentar os seus custos diários/mensais? Vendemos património? Outra vez? Seremos mesmo capazes de cair nos erros do passado recente?

Bom, numa perspectiva concreta e apenas analisando os activos futebolísticos que temos actualmente, será muito difícil ao Benfica fazer sair um jogador no final da época pelos mesmos valores que saíram Witsel e até Javi. E mais difícil será manter a áurea de JJ no que diz respeito à valorização dos nossos activos, até porque o seu comportamento evidencia já algum desgaste. Como diz o povão (e alguns antis encapotados), o Benfica tem de vencer mais do que apenas a taça da liga todos dos anos. Por isso Jesus joga muito esta época, e o seu comportamento ao longo dela será um espelho da sua vontade (ou da falta dela) em continuar no Benfica.

Ontem o Benfica de hoje provou-nos a todos ser muito mas muito diferente do Benfica de outrora. E para mal dos nossos pecados, demonstrou-o ser para pior.

Esperava mais. Era minha convicção que podíamos ter feito muito mais. Por isso confesso que me sinto desiludido. Mas aprendi. Aprendi que apesar de desiludido, hoje acordei já a pensar no próximo jogo com o Beira Mar. E em vencer. Sempre em vencer.

Ouviste Jesus? GANHAR SEMPRE! Com audácia... Sem "medes", sem intranquilidade. Com toda a ambição do mundo. Acorda Benfica! E levantem a cabeça que eu não gosto de ver gente desanimada.

VIVA O BENFICA PORRA!

PS: Por mais que eu tente não sou capaz de gostar do futebol deste Barça. Enérgico e pasmacento. Letárgico e letal. Cheio de contradições. Mas eficaz... Horrivelmente eficaz.