terça-feira, 15 de novembro de 2011

Ter ou não Saviola... ou outros que tais



Caros amigos,

Os meus anos a jogar futebol pelos pelados deste país ensinaram-me muita coisa. Mas os últimos anos da minha carreira de jogador de futebol (ó pra mim cheio de peneiras) foram os que me ensinaram mais. E uma das coisas que aprendi foi que é impossível ter sucesso com uma equipa em que não pontuem jogadores com experiência e também com qualidade.

É claro que o conceito de qualidade no distrital de futebol tem de ser encarado num sentido muito lato (em terra de cegos quem tem um olho é rei, ou neste caso quem tem dois pés trata melhor a bola que o vulgar perneta como eu), mas o facto é que em muitas das equipas que acompanhei, desde o distrital às 2.as divisões (onde hoje pontua o meu outro amor clubístico, o Juventude de Évora), existia sempre um "Aimar", um "Luisão" ou um "Saviola".

Este tipo de jogadores, cada um na sua posição, são essenciais numa verdadeira equipa de futebol. Do seu rendimento, da sua capacidade de decisão, do seu espírito de liderança (já não falo tanto em personalidade pois o conceito de boa personalidade vária de indivíduo para indivíduo), da sua visão de jogo depende, em quase 80% das vezes, a vitória,empate ou derrota de uma equipa que os tenha nas suas fileiras.

É notória a diferença de atitudes, conversa e postura que alguns jogadores de futebol vão demonstrando ao longo da sua carreira e está quase cientificamente demonstrado que o equilíbrio emocional, decisional e profissional de um jogador de futebol atinge o seu pico muitas vezes já numa fase da sua carreira em que se encontram muito próximos da fronteira que os separa da chamada "velhice" futebolística.

Saviola passa por uma fase má. É realmente um jogador cujo rendimento o ano passado ficou aquém do previsto e que, como tal, saiu caro ao clube pois o seu pior rendimento implicou também um decréscimo na capacidade de concretização da equipa. É um jogador que decaiu algo em termos físicos nos últimos 10 anos (talvez por uma utilização desregrada nos seus primeiros tempos de carreira) e que tal como Aimar me parece hoje merecedor de atenção do nosso departamento físico para que o clube possa maximizar e voltar a tirar dividendos do seu rendimento em campo.

A sua ausência dos relvados como titular do Benfica está hoje também a ser notada pelo próprio Cardozo, que muito beneficiou das "vagabundagens" de Saviola na primeira época de JJ no Benfica. Cardozo é também por isso um jogador a entrar em nítido sub-rendimento. E isso nota-se mais hoje na sua prestação individual do que na prestação coletiva, porque o plantel do Benfica hoje em dia garante mais soluções.

Considero Saviola um avançado que necessita de algo extra ao nível emocional para poder demonstrar todo o seu potencial. Também a sua performance em campo em conjunto com um outro avançado mais móvel parece-me sair significativamente beneficiada, daí talvez o seu melhor rendimento neste último jogo com o Galatasaray. Eu sei que o jogo era a feijões e que a equipa do Gala já não é a mesma que veio ganhar 2-0 à Luz em Novembro de 2008, mas o facto de Saviola ter jogado sem espartilhos e a vagabundear como antigamente beneficiou e de que maneira a sua exibição.

Saviola não tem a mobilidade nem a velocidade de execução de outros tempos, isso é indiscutível. Mas a sua utilidade é também, na minha modesta opinião, indiscutível. Confesso que a personalidade reservada do jogador e a sua notória aversão a jornalistas (ao contrário de outros não anda constantemente a pular para os jornais com declarações diárias acerca da sua situação profissional) é algo que não nos deixa perceber bem que tipo de pessoa será na realidade. Mas percebe-se perfeitamente na sua postura enquanto atleta do Sport Lisboa e Benfica o respeito pela história e grandeza do clube.

A julgar pela repetição de declarações de Luís Filipe Vieira, a crise que nos bate a todos à porta poderá também afetar a nossa Gloriosa instituição, por isso o facto de Saviola auferir um salário dos mais elevados do atual plantel poderá ter carácter decisivo se houver reunião para renovação contratual, e ninguém poderá levar a mal caso as negociações (se vierem a existir repito) falhem por motivos financeiros.

Jogadores do calibre de Saviola, Aimar, Luisão ou até mesmo do recém chegado Artur irão passar muito poucos pelo nosso Benfica. A nossa última vintena de anos de historia demonstra isso mesmo, onde apenas alguns atingiram rendimento de destaque.

É certo que hoje em dia o Benfica caminha, ainda que com passos inseguros é certo (e com o fantasma do passivo ainda a apoquentar-nos anualmente), para uma reestruturação e uma refundação da sua mística história. Mas não será apenas com imberbes filhos do novo Benfica, ou com outros, profissionais de dúbia qualidade, que lá iremos.

Para uns faltar-lhe-a sempre um guia para acompanhar a sua marcha, para outros faltar-lhe-a a respetiva guia de marcha.

O Benfica necessita de se refundar desportivamente. Recriar o seu núcleo duro. Olhar para a sua história com orgulho e com avidez para o seu futuro. Por isso olhando para uma equipa como a nossa onde temos tantos jovens jogadores (muitos deles avançados) com necessidade de aprenderem dentro de campo as ratices do futebol, não será importante manter no plantel um jogador com as características de Saviola?

Seja com esta Direção ou com outra, como outros ilustres companheiros de blogoesfera advogam, a prioridade deverá ser sempre a de ter plantéis devidamente consistentes e em que a juventude, a experiência e a qualidade estejam sempre presentes e se complementem.

De outra forma facilmente transformaremos os Nélsons, os Rodrigos, os Rodericks, os Mikas que temos atualmente no nosso plantel ou emprestados, em cegos de um olho que apenas serão Reis efémeros quando no ocaso das suas carreiras atingirem o pináculo ao fazerem parte do plantel de por exemplo um Desportivo de Elvas, de um Imortal de Albufeira ou até infelizmente de um Lusitano de Évora que hoje agoniza nos nossos distritais.

Saudações Gloriosas a todos e na 6.ª feira lá iremos nós encher os cofres de mais um clube em dificuldades.

PS: Não sendo fã da estrutura e da forma como no seio da nossa seleção se resolvem determinados problemas, sou Português e quero estar no Euro 2012. Independentemente dos merdaís e bufentos deste país, sou Português em primeiro lugar e nunca deixarei de apoiar a nossa seleção apesar de estar mais que desiludido com o tratamento que a sua organização nos tem dispensado. Por isso espero que mais uma vez o Estádio da Luz seja a casa de um triunfo Glorioso, desta vez para os Portugueses de todas as cores. Pretos, brancos, amarelos, castanhos, encarnados, azuis ou verdes. Apesar de que só ficamos azuis quando ficamos com falta de ar e verdes só de raiva.

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